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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

11 Papel Branco

1
OLHO
longamente o vazio de uma folha
em branco
e lentamente nela sonho, os pesadelos
e os sonhos
possiveis que eu nem conheço.

A todos eu ponho
na brancura do papel
que não sujo, incapaz de o manchar
da brancura suja que por mim pensa
acumulando borrões
luzes e escuridões
QUE AOS SAPATOS
de um caminho de esquinas escusadas
e encontrões colados
se grudam por nadas e por tudo.














E tapas, etapas


O aguardar de respostas ou de vida
em cada resposta que se faz pergunta
de haver sempre mais
em cada patamar das descobertas todas,
por momentos conseguidos e logo perdidos
em cada patamar de degraus encontrados
na pergunta de cada um
sempre a mesma pergunta
de
degrau
de haver estrelas ao alcance da mão
sempre
da ilusão e do fumo que se guarda na ponta dos dedos
esvaidos no fumo dos segundos
dos dedos e do voar de cada único.

O percorrer dos instantes como gotas que se unem
num copo sempre vazio.
Palavras que se acumulam quietas
de encherem a cabeça de sons,
de Brahms e de silencios
de variações e de fugas
palavras formadas
alheadas fornadas de um calor de forno
que aquece e arrefece
quieto
este calor de estar vivo.


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

10 Luis

1
A fé que salva pessoas
mas consegue esquecer
outras
poderá ter muitos nomes
ou atributos
mas no fim
é só sorte momentânea
acaso
ou dinheiro que permitiu adiar
o fim,
que é o fim dos milagres
o esgotar do tempo,
o acabar certo
de um viver incerto
mas com fim marcado.

Queria ter a sabedoria
de dissertar monocordicamente
os ditos
e os contos todos
da sabedoria popular
democráticos e sempre certos
como boatos que se fazem
a razão
de a terem,
mesmo que a não tenham
porque no fim
a razão
se faz
do que sobrou de razões
espalhadas a esmo
na prece dos conventos por erguer
na pressa de tudo serem momentos
de prece que passam sempre.


domingo, 25 de dezembro de 2011

9 Analogias de tudo e de nada

1
É no papel que eu deixo escorrer
a estupidez do entendimento
numa matemática de números incertos
de charadas e linhas cruzadas
que passam por pensamento
e repetem, repetem no infinito
do finito
os resultados que nunca são iguais
de tanto se tentarem
nos atalhos e caminhos
que mudam como muda o tempo
e o sol e a chuva
e o ser que tenta, tenta sempre
no recreio de se perder.

A solução de tudo é tão evidente
e tão próxima
que também consegue ser a solução
de nada.  

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

8 Precursos dos percursos

5
No início as duvidas não existiam
o tempo não emperrava
nas perguntas sem fim
e o sentir sem ferrugem era inato
e sempre certo.

Os precursos eram percursos por fazer
e tudo era certo como os dias
que começavam e acabavam.

Depois vieram as mortes físicas
as mortes mentais
de tentar apagar o que se acabou
e nunca o conseguir.

Sempre tive medo da entrega
que nos faz dependentes
e por isso me entrego
num exorcismo doloroso
ao que perco
em cada segundo
de entregas que faço
como se professasse a religião
de estar vivo
com a intensa fé
de por ela morrer.


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

7 Elementos do Espirito

8
Metade do que por mim passa
eu perco, tentando entender
dos momentos,
os elementos que compõem,
os momentos.
A outra metade nem dela me apercebo
enquanto voo
talvez na face oculta da minha lua
vendo talvez com a lucidez
que depois esqueço
as longas visões de tudo
que a nada levam.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Não há comentarios

37
“De onde copia você o que escreve?”

Não me ri, ouvi serio e respeitosamente
e depois num acto de fé enumerei lentamente
as revistas e as vidas, os segundos e os momentos
que eu roubo e faço meus
as vidas que por mim passam e se fazem minhas
de eu sem lhes pedir licença
as aproveitar.
Os livros, os filmes, os passos que dou
e tantas vezes os que não dou
porque outros por mim o fizeram
e eu sem vergonha aproveito.
Senti o armário que sou nas gavetas tantas
numeradas e nomeadas que sem fim fui abrindo
aos momentos e por momentos escancarados
que longamente desfiei do novelo que afinal não é meu.

Quando quase sem fôlego parei, na curta pausa que fiz
e antes que vergonhosamente me esquecesse de o fazer
pedi licença para plagiar a palestra tão construtiva
que amenamente tínhamos tido.  

Não há comentarios.

O espirito, a alma, a consciência, ou como no meu caso, o desbloquear de um pensamento fixo, ergue sensações interiores, que imitam a fome e a sede, que são fome e sede, um vazio permanente, um entreter da cabeça, que viaja num regresso constante, ao pensamento fixo, ao estar vivo ainda e por isso escrevo, entretendo devagar os temperos e divagando sozinho,o meu sal e a minha pimenta, de ninguém mos comentar.
Não há comentarios, é verdade, se excluir a opinião que verbalmente me foi transmitida ontem, reenviando-me para Manuel Pina e a opinião varias vezes formulada, no encontro de poesia de Matosinhos, de nada haver de novo nas palavras, além de um copiar constante, de um roubo permanente, das miudezas que ganham cor e conteudo, filtradas em cada mente que sonha a magia de pensar, como se o fizesse num exclusivo,que afinal é de todos e é sentido, é procura, é identidade e é vida.Nada de novo, somente vida.
Há dois anos foi-me colocada a mesma dúvida e eu fantasiei uma resposta, no sossego de ser desnecessária.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

15 Medidas


23
Dividir com jeito
lentamente
como quem parte um pau
a meio
sucessivamente
dividindo a meio, cada meio
procurando a medida
o meio que permita
o retorno da unidade
perdida.









Silêncio e ausências

Quase tudo
se pode comparar a este percurso,
ao que nasce e ao que morre,
Do Sol e dos dias,
aos livros e vidas,
tudo teima um inicio e um fim.
Somos como bolas de um jogo de cores e afectos
e todas fazem falta
as cores e as bolas
e os afectos que se acumulam
conscientes, inconscientes
de serem o que sou aos pedaços
grandes ou pequenos
dispersos no tempo
de ainda parecer meu
o tempo do jogo
e de ser.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Continuação e fim

acredita e as volutas dos cigarros que a eternidade lhe reservou, enrolam-se nos meus sentidos embotados, incapazes de desmontar este edifício, de ruas e de gente, de concretos e palpáveis, do real e do impossível, que, genial, de uma cabeça brotou, como se fosse simples, esclarecer tudo para que tudo possa permanecer igual. Fazer o funeral da vida para que ela possa ressurgir mais forte, até no chocolate, nos marçanos e no capacho.
Estou agora a ler Caeiro e a sonhar não a morte mas a vida de tantos poetas num só, gostava de ser o menino que desce a encosta, o mistério de não haver mistério nenhum, o Deus que quis ser as pedras e as coisas e os rios, principalmente o pequeno rio de pouca gente da aldeia que desconheço. Mestre de uma paz que nada pede porque tudo aceita, como natural e bom, o concreto, o sentido das coisas é o sentido de elas serem o que são e não pensar em nada é o bastante.
Do Alberto torna-se impossível alcançar a paz da explicação de tudo, que não existe fora do que existe e por si se explica.
Do Álvaro torna-se insustentável a busca de tudo, numa busca de gigantes e de extremos, numa fuga impossível do real, que de si mesma se sustenta, canibal e incapaz de fugir ao circulo majestoso que se fecha nas estradas e caminhos que a nada levam mas tudo levam.
Da Pessoa que dizer, dos “delitros” às quadras ao gosto popular, do “sal de Portugal”, ao Reis que admiro, sem nele comungar, da mesma devoção quase divina de um crente que sabe ser descrente até ao mais intimo da sua crença e contudo ama a vida como a um deus e tudo quer saber, com a permanente noção de que nunca saberá nada, além da “metafísica de não pensar em nada”, ”consequência de estar mal disposto”.
Transeunte de tudo, até da própria alma, mangas-de-alpaca mesmo sem elas, o que dizer do discreto Bernardo, invisível de estar lá, vestido das vivências que o não deixam ficar nu e capaz do Universo na rua dos Douradores, mais o enigma de viver.
O que me vai na alma, na alma vai e comigo vai, cansado e sempre incapaz de sentir do percurso os passos que dei, nos que não dei.


Continuação

Invocar as musas do passado e ter a noção delas, que no presente não tem, sentir ainda mais o hiato que se sente, despejado e por invocar. Ter da janela a visão do real nítido e absoluto, dos seres e das coisas, no peso que em tudo se faz alheio.
Ter feito o que todos fizeram e invejar todos só por não serem ele. Ser o que não quis e o tempo passou e acomodado já não pode mudar mas contudo mantém a lucidez de quem longamente pensou e não o fez em vão. Sabe o que é de sublime no que pensa e no que deixa cantar as palavras.
A essência e a música dos versos, de onde partem, aonde vão, inúteis mas com início, sempre defronte da Tabacaria de defronte, sempre desencontrados de quem os faz, no tropeção do que não vale nada e por isso calca a consciência de estar existindo.
E a realidade palpável de repente surge, tudo tem o seu tempo curto, por mais longo que pareça, tudo é tão curto, na hora de acabar, que tudo se faz tão breve, pedaço a pedaço, nas fileiras do tempo e do espaço. Tudo se sucede e as ruas e as gentes surgem e depois vão e o mistério permanece, lá no fundo tão certo como o sono que tudo permite, de inúteis, de impossíveis, de reais que se fazem o concreto, o mistério e tudo.
E de repente o concreto visível, as dúvidas que pouco valem, na realidade que cai e se faz certa de uma energia, que se ergue e no que diz se faz certa e humana, dizendo o contrário.
Num cigarro, no saborear do momento, na pausa em que se libertam os pensamentos e do que fica se ergue a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Fumar, enquanto o destino conceder e, se o destino o quisesse feliz, talvez o fosse, mas já agora da cadeira se levanta. Vai à janela.
 E o concreto visível de novo surge, mais as dúvidas que nada valem, mas agora identificado e sem metafísica, acena e tudo sorri, para que o universo se possa reconstruir de novo, sem ideais nem esperança.
O que fazer do que é belo, se só por inteiro o consegue ser. Da rosa sobram sempre as pétalas, que fora dela nada valem, de um texto como a TABACARIA sobra sempre a beleza das imagens que dão o sal e a pimenta de um tempero genial. Tento, do stress do engenheiro citadino, sentir as preces do ateu que acredita que não

Continuação

Quando as palavras escritas atingem níveis de beleza lúcida, de pensamento criativo, muito além do génio comum, ficam estanques, herméticas, vibrantes como correntes de música e som impossíveis de contornar, num tempo só delas que os afortunados que as podem, agradecidos bebem e agradecidos longamente tentam.
Leio a Tabacaria desde os quinze anos, não comecei Campos com ela mas, quando a descobri, sensações para as quais nem busco palavras, na vergonha de as sentir vãs e vazias, me inundaram num Mundo que sentia com sentido na falta dele, destruído e reconstruído estância a estância para que o sentido de tudo seja sempre o sentido de nada e o acaso tudo leva e tudo apaga na metafísica, que é uma “consequência de estar mal disposto”.
Tentei ao longo dos anos abranger, um pouco, sempre um pouco do que o tempo e o meu estado de espírito me permitiam das páginas sublimes de um texto que tenta o Universo para se firmar grandioso e tão vasto no monta e desmonta da Humanidade perdulária. Nunca o conseguirei mas hoje que as minhas esperanças voaram estéreis e vazias, hoje tudo eu posso tentar, não há derrota que me derrube, nem vitória que me possa elevar, do cansaço que se fez negro e buraco e buraco, negro.

Não ser nada mas do mundo ter as hipóteses todas. Olhar alheio e desconhecido e fútil para o mistério da vida e dos seres, que é real e certo como a morte que tudo leva para o nada.
Sentir da verdade a derrota, o estar desligado e por isso lúcido e, ao partir, de tudo sentir a explicação palpitante de já ser alheio. Sentir que tudo é sonho, sentir o que pensa como outra realidade e ficar dividido, entre o que é e o que parece, entre o achado e o perdido.
Tudo e nada, extremos que se tocam ao sabor das vontades, do acaso que parece tornar tudo tão igual, que até bloqueia o pensamento e o faz pensar em pensar. O acaso brinca com os seres e o que serão, são tantos para tão pouco e o sonho a todos alcança e todos pensam poder o que poucos, muito poucos, poderão.
Tudo se faz vasto e distante, o gozo do mais simples se perde, ao tentar explicar o que é para ser sentido e só assim se explica. Pensar e pensar, numa insatisfação que parece infinita, mas que vai guardando do impossível, a certeza amarga de um destino que sem lágrimas sente ser o seu e estóico aguarda.

8 de Dezembro Festa da Poesia Matosinhos

Encontrei Alberto Serra, conheci Manuel Pina como um refresco de consciência, da minha, tão fresco e sereno o senti.O Serra informou-me de um programa, que por acaso é sobre o que escrevo, o que vivo ou talvez o que morro de instantes e esperas, afinal, esse programa já esta pronto. Ainda não o vi, aguardo e guardo este longo hiato, tão fácil de romper por um simples telemovel.
O programa do dia da poesia, falhou no horario, tudo se atrasou e contudo foi bom, no pouco que consegui ouvir, consegui participar, alheando-me para poder sentir que tudo já está dito e só resta copiar ou roubar, nesta indefenição do que é a Poesia, da parte de quem sabe, enquanto o D. Guilherme Pinto ao falar do que é prosaico e do que não é, me recordou Caeiro, o marçano do que é simples e Campos, o marçano inventor do que complica, como recreio de um jardim de todos e tudo é prosa.
Ver para crer, aguardar e sentado se for possível, o Mundo é feito de promessas e verdades, aguardo e vivo em cada segundo, a promessa e a verdade de cada um, a promessa, a mentira e a verdade de cada um.
Reli e aqui coloco o meu entreter da cabeça de 2009, quando o meu Luís disparatou, aconselho o texto da Tabacaria, para acompanhamento e complemento.

domingo, 4 de dezembro de 2011

16 Cristal

estando vivo
se ganha a competência de morrer
sendo recordado
se pode ser esquecido
e é só
do que passa
e parecendo nada deixar
que se amontoam as despedidas
e as partidas constantes
de nem todas serem fáceis
só.

sábado, 3 de dezembro de 2011

15 Medidas

37
O suicídio de cada dia
adormece na medida de cada dia
e acorda na medida que finda
em cada dia.

Tudo está bem feito
e a corrida corre connosco
numa meta que é sempre um inicio
na medida de cada segundo
na medida de cada vida
no acabar de cada dia
nas medidas sempre certas
de um caminhar sempre incerto.

O suicídio de cada dia
acaba todos os dias
e do refresco de acabarem
se faz o continuar
desta missa de orações esquecidas
que se prolonga no adro
no cheiro das flores que secam
e no cemitério ao lado.

15 Medidas


9
JULHO
Já nem me sinto culpado
sinto a culpa toda
a culpa de uma condenação
que dei em vez de receber.

Os passos todos que foram dados
e tantos tiveram a preocupação
de mo anunciar
ficaram gravados no meu sempre
ao lado, em redor
por dentro e por fora de tudo.

Nestes dois anos uma vida mais longa
do que a minha
anseia embebedar os instantes todos
e nem isso pode.

Parecem vómitos que me sufocam
constantes de os saber meus
para sempre
de os guardar nesta bebedeira
de não a ter em cada instante
nos passos todos
que foram dados
e no meu sempre
para sempre colados.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

14 Dependências

34
Da bebedeira de estar vivo
sobra sempre a ressaca
de estar vivo
de um dia passear nas estrelas
e no outro das Marianas
sentir as Fossas que se erguem
de estarem lá, no sitio sempre certo
de as encontrar e de as perder.

O tempero aguarda o paladar
do dia
do sal e do picante
de uns dias tudo ser jantar
e noutros
se levantarem os momentos todos
para que noutros
tudo pareça deitar
o que ainda nem se levantou.

Um travesseiro que desligue
esta bebedeira dos sentidos
que permita da ressaca dos momentos
o desligar dela
no descanso dos passamentos
dos passatempos
dos pensamentos.

16 Cristal

Um menino de três anos foi posto a lavar
e morreu
vivo em excesso, na opinião de quem o cuidava,
ou do pai que o centrifugou
das culpas todas, dele, dele, só dele
que o matou.

Aonde se encontra a vida desse pai
neste momento?
Deveria estar morto, mentalmente morto
e contudo é gente ainda
com direitos essenciais que não deu
mas que lhe vão ser dados
como à mãe que calou e assim consentiu
este desfecho.

O pedofilo belga queixou-se
da luz que lhe apagavam cedo
não reclamou da escuridão nem dos maus tratos
que ofereceu às meninas que matou.
Este talvez se queixe da roupa mal lavada
ou mal passada
enquanto a Justiça, preservando os direitos de todos,
o mantiver preso e vivo.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

13 Pontos de vista

32
Escrever por necessidade é deixar fluir
o que interessa e o que não interessa
para que num riso de supremo alheamento
a noção de que tudo interessa
nos possa invadir
iluminando o cotão e a poeira
de cada prateleira
de cada livro de cada dedada
de cada segundo
de cada passada.
Necessito escrever ou escrevo por necessidade?
Marco ou preciso de marcar
o que vivo
para poder viver
ou sentir que vivo?










13 Pontos de vista

29
Desde setenta e quatro
quase sem o notar
que a natureza parece irromper
livre, pujante e forte
dos fins de Março, até vinte e cinco
de Abril
depois amocha e as liberdades que pareciam
possíveis
amarelecem
num estio de areias e gotas contadas
evaporadas delicadamente
em cada cabeça que as espirrou
em cada partícula de pólen
em cada semente madura de liberdades
verdes
que o gado pasta como sempre o fez
para que se faça
dos dejectos
o proveito fértil da próxima colheita.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

12 A B C

34
Ajustar as medidas
tirar de cada segundo a importância
de cada um
alinhar palavra por palavra
o verso e o reverso
de cada uma
como se cada grão de areia
fosse a praia inteira
como se cada gota
fosse o oceano todo.

12 A B C

31
O tempo absorve as dores
alegrias
solúveis no segundo que as digere.

Dos prazeres e do sofrimento
quase tudo se esquece no calor que esquece o frio
no frio que não sente o calor.

De um manto cinzento rompem fios dourados
e negros
como restos impossíveis de esquecer
ainda
como marcas
como espaço
de um espaço que se acaba.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

11 Papel Branco

50
O melhor de mim está no que sinto
de o fazer
ou de o não fazer
mas de o sentir
como tostões que se espalham
na aparencia de não terem valor
como segundos que passam
na aparencia de nada valerem
de tão breves
de tão curtos
um a um.

domingo, 27 de novembro de 2011

10 Luís

9
O Inverno e o Verão,
a Primavera e o Outono
existem para me lembrar de ti.
As flores murchas e as viçosas
que seguem num caminho de acabar
todas me lembram de ti.

A secura e a água que corre abundante
parecem mudas
e contudo berram a tua falta.

São os rapazes e as raparigas
os velhos e os novos
a folha castanha e o verde fresco
o céu azul e o céu nublado
o sol quente e a falta dele
que de tudo se fazem lembranças
da falta que me fazes.

Tudo concorda, tudo acorda
tudo parece um só dia
de discórdia
um só, um só dia
que ainda
não acabou.

Domingo

Domingo e a rotina dos meus, o refúgio do conhecido, ando sem me mexer, quase sem me mexer, de um pico para outro, de serem meus, porque eu sou deles e o que faço, no polo certo na corrente certa permite certo o que faço e o que durmo, de serem eles o meu sonho, os meus picos, as minhas irritações e as minhas venturas todas, mais as que nem sonho de serem do que sou, o que nem sonho ser, amarrado a eles e a mim.

sábado, 26 de novembro de 2011

9 Analogias de tudo e de nada

50
Há lodo no cais das minhas partidas
e uma flor por vezes
ou um sorriso de criança
e os meus, os meus
que me seguram,
amarrando
a minha fraqueza à força dos sonhos
que ainda posso
e como velas brancas por desfraldar
esquecidas do sonho das partidas
se faz o que enrolo
como mortalha
de um charro que nunca fumarei
e me enrola como velas esquecidas
de navegar ou de arder
de ser ou acabar.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

8 Precursos dos percursos

39
Viver
é como cozinhar bacalhau
há mil maneiras de o fazer
e há quem o faça bem
e há quem o faça mal.

Do melhor peixe
uma porcaria pode surgir
enquanto do mais fraco
se consegue um petisco.

Na troca de sabores
que refrescam o paladar de sentir
tudo se aproveita do doce ao amargo
das espinhas, aos ossos
enquanto dura o tempo de comer.

No fim da refeição resta o fim dela
os sabores não voltam atrás
o que foi aproveitado num instante
é digerido no proveito dos momentos
no momento aproveitados
e acabados.

O meu filho decidiu desistir com o prato ainda cheio
e eu estou aqui
incapaz de o ensinar a comer a vida
com o apetite de um estômago vazio,
jovem e ávido.
Fui incapaz de lhe dar a paz
a paz, nem sempre possível, de comer da vida
os conflitos, as quebras e o que custa
que com ela se pagam
mantendo-a.




quarta-feira, 23 de novembro de 2011

7 Elementos do espirito

39
Somos feitos
de areia amontoada

seca ou húmida

do vento ou da água
somos o recreio

somos a imagem
do acaso
que molda e desfaz
acumula e amontoa
e consegue dar tudo
parecendo nada dar

consegue ser tudo
parecendo não ser.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

6 Momentos

12
Curtas distancias se fazem tão distantes
curtos instantes se fazem tão
distantes.

Curtos passos, momentos e nada fica igual
do que parecia ficou a parecença
como um guia para o que houve.
A forma que há da forma que havia
um esqueleto de sensações
um apodrecer de sentimentos
alicerces que se desfazem
nos alicerces que se refazem.

Pedras que se movem
nas pedras que permanecem.
Tudo se faz mesmo sem ânimo
nem esperança.
Tudo se faz necessário
para que haja mudança.
Como tijolos da mesma fornada
do serem todos diferentes
se faz a igualdade que os assenta.


domingo, 20 de novembro de 2011

FRAGMENTOS 2 e 3

FRAGMENTO 2
A busca do real como um sonho que se esfuma
aos pedaços
lavados ou perdidos
acompanha-me em cada leitura da Tabacaria
perdido nas razões de não a ter
nunca
em cada leitura de serem sempre
diferentes
os momentos e a luz de cada um
enquanto me sinto
um amontoado de fragmentos
que se ajuntou
e desconheço
quase
completamente.

FRAGMENTO 3
O caminho é feito de passos
e cada um
por mais curto que seja
se faz uma unidade de um todo
abarcante e desconhecido
que passo a passo se vai esquecendo
mas permanece latente
num ter havido
em cada passo torto ou direito
a sensação de os ter tido
esquecido

de serem como gotas
que enchem um copo
que depois vazam

numa fuga quase insana do vazio antes
do vazio depois
enquanto dura esta sensação de vazio
duro e antes e depois
durante.

RTP

Os cinco pequenos livros, aqui contidos, foram entregues por intermedio de uma maravilhosa pessoa na RTP, posteriormente e como explicação/justificação, entreguei o texto de abertura deste blog ao jornalista Alberto Serra. Em Maio e devido ao premio Camões que Manuel Pina meritosamente ganhou, com toda a lógica fui imterrompido, aguardo agora o reatar do que já deveria estar feito. Sou essencialmente ansioso e depressivo, a vida voa, ainda ontem o negro que me cobriu de parecer que tinha perdido tudo, aconteceu e ainda aqui estou, dois anos e quase cinco meses depois. O vazio de tentar escrever extravazou numa gastroenterite de parecer que nada fica, do que tenho, do que sinto e no papel parece perdurar fora de mim. Estou no décimo sexto pequeno livro e texto a texto, de cada um, irei colocar uma amostra de momentos cristalinos e aparentemente sentidos.
No dia treze de Novembro, coloquei neste blog, com o titulo FRAGMENTOS, três pequenos textos que agora estão diferentes.

Estive a conversar sobre tendências
e a falta de isenção
que acompanha cada cabeça
nesta visão por fragmentos
única possível
para quem só vê o Sol
ou a sombra
a frente
ou as costas
e de cada fragmento tenta o juízo de um todo
que nunca viu por inteiro

na mesma hora os fragmentos todos
no momento inteiro.











  

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Fragmentos

Estive a conversar sobre tendências e a falta de isenção, que acompanha cada cabeça, nesta visão de fragmentos, única possível para quem só vê o Sol, ou a sombra, a frente, ou as costas e de cada fragmento tenta o juizo do todo.




A busca do real como um sonho que se esfuma, aos pedaços, lavados ou perdidos, acompanha cada leitura, da Tabacaria e todas são diferentes de a luz do momento nunca ser a mesma e nós sermos um amontoado de fragmentos que ajuntamos e desconhecemos, quase sempre, completamente. 



O caminho é feito de passos e cada um, por mais curto que seja, é uma unidade de um todo, que passo a passo se vai esquecendo mas permanece no ter havido, em cada passo torto ou direito, de o serem como
gotas que enchem um copo e depois vazam, 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Percursos

Disponivéis de 1986 actos necessários, a 2009 Negro Luminoso os primeiros cinco livros de poesia que eu escrevi.
Para efectuar download dos mesmos basta apenas clicar sobre o título.

Actos necessários

O encontro das diferenças

Sem pausas nem arrependimentos

Circulos que se estreitam, vastidão que se encerra

Negro luminoso

Poesia como acto necessário



Chamo-me Jorge Braga e desde muito novo que aprendi a escrever como quem brinca e deita fora. Tinha catorze anos quando abordei Pessoa, a serio, pela primeira vez e pelo desvio Campos. Nunca guardei, durante muito tempo, as porcarias que de mim saíam, tão fracas e sem préstimo pareciam, quando as comparava com o sol.
Entre os vinte e seis e os vinte e oito, comecei a guardar e a sentir, como pingos dispersos, alguma qualidade nos alívios, desabafos que o papel recolhia. Da primeira escolha de textos de 86, até à quarta de 09, o meu filho Luís nasceu, cresceu e como bipolar não declarado, matou-se.
Descobri de a sentir, de a viver, a parábola do filho pródigo, no que regressou dele e agora com a mãe e o irmão eu tento preservar. Tive-o morto nos braços, regressou a casa para não morrer no Hospital e agora dentro das limitações do que para sempre se quebrou, está cheio de saúde e o bem-estar dele é o nosso oficio diário, a nossa paz, a fé da mãe que por ele abdicou de tanto.
Em dois mil e nove, o meu quarto livro extravasou a depressão dos conflitos que ele nos trazia, depois só senti morte e saudades de todos os maus momentos anteriores e passei a escrever, como quem vomita tudo e nada, para de novo redescobrir o que ganhei ou até perdi por não ter feito o que ele fez, na hora de o ter feito e que eu supunha ultrapassada.
Quase como um diário, contido e conotado ao que vivo e aos meus, vou sujando as ideias com a pretensão de as ter, vou coleccionando textos, entre música e livros, moedas e selos, amarrado que estou e porque o quero, aos meus.     

Jorge Manuel Braga