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domingo, 28 de abril de 2013

Contas de encher e de vazar.

Faço da cabeça contas
e as que acertam
permanecem
e as que falham
logo esquecem.

São contas de contar areia
gotas de não molhar nada
dores de se aguentarem
sempre.
São dos nomes todos
as contas todas
que andam sempre certas
de serem
as erradas e as certas
que contam sempre.

Contas sempre iguais
de estarem sempre certas
em cada conta de cada cabeça.

Há musgo novo
nas minhas recordações velhas
e as palavras parecem correr num riacho
delas
só delas.

As pedras que o riacho molha
na cabeça permanecem
e as cores fazem-se novas
em cada encher, em cada vazar
de um vazio sempre novo
de haver
de haver ainda
vazios por encher
noções constantes
por entender.

Palavras como névoa e o levantar dela
e a luz e a sombra e o serem
assim mesmo e de novo assim mesmo
refeitas desfeitas e de novo feitas
como névoa de palavras e o levantar delas.

domingo, 21 de abril de 2013

O tempo como papeis acumulados.

Escrever balões e as cores todas e os vazios todos para que alguém os preencha, num jogo de completar, num puzzle de nunca acabar.
Nascer já ensinado a não saber nada e depois nascer de novo e de novo morrer, num jogo de balanças, de pesos como vida e valores que saltam livres de um para outro prato, livres de o serem em tudo e depois nada e depois ainda, num permanente gozo perfeito, de cada momento sempre imperfeito.
O dia e depois o dia, um e depois outro e as noites acordadas no meio e as dormidas pelo meio, tudo normal em cada pedaço de tempo sempre neutro, marcado como se não o fosse, por curtas venturas, longas desventuras e um pano que arrasta tempo que se mistura, poeira de tempo entre marcas.
Uma gaveta repleta de papeis acumulados, os mais antigos dos anos vinte, o primeiro datado de 1932 e os últimos de 2012. Quantos mortos em resquícios do tempo naquela gaveta e quanto tempo na poeira do fundo, tempo ido desfeito em pó, sem pressa, morto a morto, vida a vida acumuladas como ninharias de terem sido tudo, no tempo que tudo desfaz.
Poeira luminosa de algumas vezes, poucas mas saborosas, poeira somente de quase sempre, triturada no ou pelo tempo, unidade de nada que parece valer tudo, na hora constante dos resquícios, na hora dos dedos sujos, arrastados valores do que fica sempre igual, arrastado valor do momento sempre perfeito de não ter sido ainda, ainda ou sempre por vir sempre.

domingo, 14 de abril de 2013

Certeza de tudo ser incerto.

Parecem inacabadas as acções todas, os dias todos
todos os dias incompletos
de haver nunca a sensação do segundo pleno.

Martin Eden ou esta sensação de fecho.

Parecem todas novas as palavras arredadas
das ideias,
alguma vez as houve?
Palavras ou ideias ou então este  crescer de coral
que se ouve em cada morto
que fica no caminho de acumular,
de empilhar como ideias,
palavras,
vidas como casulos vazios
persistindo
como espaço que se acumula.

Olho as diferenças todas e as verdades todas
de cada vida que em verdade vive
em cada pedaço, em cada bocado, em cada mentira
que na verdade vive
em cada um em cada um
em cada casulo vazio
que se enche constante do vazio de pensar.  

domingo, 7 de abril de 2013

Ampulheta, Asas e Gadanha.


Tempo que voa e a morte ceifa.

Esquerda ou direita e no meio o que se esmaga, Coreias ao Norte e ao Sul, direitos e tortos sem haver diferenças e o que parece não é mas aparece como se fosse gente, pequeno Hitler com armas que felizmente não houve, pobre povo esfomeado em guerra com o Mundo que desconhecem.
Esquerda ou direita e o sumo escorre como rios de horrores sempre, sempre possíveis de uma forma aberrante, tudo é desculpa em cada canalhice que parte pedaço aqui, pedaço acolá enquanto não se parte tudo nas mãos de uma criança, uma qualquer, de barba ou sem barba, cabelo rapado ou por rapar, o mundo está repleto delas, crianças com fogo nas mãos e vontade de um arder de acabar.
Direita que abafa, esquerda que sufoca e o meio de não haver pontes de manias, juízo, megalomania vazia de espelhos, partidos num regresso que pode não haver.
Caminho de tudo estar bem e nunca está, pedras soltas, buracos e tapumes e a permanente sensação de que isto, isto tudo, isto todo, passeia uma ilusão que foge e nem braços e abraços cerrados seguram a sensação, de fugir, de olhar como se estivesse longe, o corpo a matéria de haver meus e de ser.
A minha mãe morreu há um mês, visitei o jardim de pedrinha escura penteada e parei no local em que a suponho guardada, nada se guarda tudo se perde e a meu lado a minha sogra, minha mãe emprestada, como benção de ainda haver valores, ou conquistas por fazer por um ateu incapaz do horror de esquecer.
Holodomor, Holocausto e Coreia e Irão para onde,
para os sonhos de haver crianças livres
em cada adulto preso
num caminho de  morte
caminho certo de haver atalhos
tantos desvios
tantos caminhos paralelos
de haver um só caminho certo
a união de todos
no fim.

Dois dias de mensagens repetidas por cemitérios de vivos, símbolos de morte que só os vivos olham.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Todos iguais, todos diferentes

As coisas são sempre simples e do que acontece sempre simples se fazem montes, amontoados de confusões de nada, fossas e montes que o tempo entulha nos dois sentidos, o certo, o errado, o que passa por ser e o que passa sem ser, errados sempre e certos sempre em cada monte de entulho, em cada fossa que o tempo escavado ainda não cobriu.

O certo e o errado rodopiam,
tão certos e tão errados sempre,
unidos nas mesmas cabeças
de estarem sempre certas
de estarem sempre erradas.

Água lisa de que cor é o que invertes?
...ondulante de segundos tremidos...
o certo e o errado lado a lado,
reflectido ou quebrado no espelho de cada momento,
no espelho dos momentos todos
por quebrar ainda.

São sempre simples as coisas que acontecem e se amontoam confusas de caminhos sempre certos, sempre errados.