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quarta-feira, 28 de março de 2012

Somar de páginas

22 de janeiro de 2012, foi nessa data que recebi o quinto e até ao momento, último comentário, ao que apresento, ao que revelo, colocando por escrito, devaneios, delírios e depressões de haver chuva, de não haver chuva. Recebi, na altura, com orgulho, o comentário que me deixou satisfeito e agradecido a quem mo enviou.
Nada depois, uma óptima refeição e depois nada. Desta torneira que mantenho aberta e dos copos páginas que foram bebidos, nada sei dos acasos de sedes, breves ou longas, saciadas, por momentos, ou nunca.
Regresso a 86, um dos poucos textos, marcadamente Pessoanos, que sem vergonha deixei sobreviver.






9
Um pouco desse calor de consciente vivo
desse sol que me treme
e eu sentia mais o que já sinto
seria mais consciente do que vivo
nesta inconsciência que me vive.

Sou pedaços que uma mão acaso
de muitos tentou fazer um.

Em mim não há estrada
e Sintra é uma pena que sinto e não tenho
em mim há vida e há restos que faltam.

Sem Chevrolet passeio emprestado
ao que me rodeia por estradas de ninguém
passar é ser sonho que pisa chão
procura que do encontro foge
sonho sem sonho que se sonhe.

Umas vezes mole e outras duro
na mesma me desgasto no que não é meu.

Passa tempo nevoeiro
com marcos que confundem
viagens que não faço a vazios que desconheço.

Passa o que passa e eu passo
nem comboio nem ponte
ilusão passageira.

sábado, 24 de março de 2012

Dia Mundial da Poesia, 21 de Março, Gonçalves Zarco

Fiquei a saber ao almoço e por via de um convite, do dia, que todos os dias, vivo ou sinto. Como poesia como quem pensa, penso poesia como quem come, digerindo cada segundo, no proveito, de a todos tentar sentir, velozes ou lentos. Poesia no caminhar ao lado dela e dos que já foram e dos que ainda são. Caminhar ao lado, do avô da minha Paula, no silêncio de lhe ouvir o assobio e a paz de um homem, que soube aceitar da vida, os bens todos, os essenciais, de olhos piscos, que a morte levou naturalmente, num leve assobio, de poesia, que é vida, breve, de ter tido, ter existido.
Po-Ètica, nem tenho a certeza da palavra, entendi do movimento, que pouco me diz, o fauvismo das palavras como cores primárias, num jogo de conotações, de ter palavras, de as ter sentido para as poder entregar a quem as queira sentir, penetrando nelas. Das imagens que, para mim, são o fundamento da Poesia escrita, um arredar, numa procura de não as ter como se o" Amor não ardesse mais, os albatrozes e os corvos tivessem deixado de voar e os chocolates, os marçanos" fossem obsoletos. Rembrandt pintava o branco diáfano, sobrepondo camadas de tinta, a brancura do papel chegou para outros. Mudar para renovar, não há grão de areia que seja igual, na        inteira. A métrica e a rima, que encarceravam o voo, não impediram o erguer das estrelas, nada o impede. Tornear o pedestal ou permitir dele o áspero grito das palavras, é fazer sempre um só caminho, por vias diferentes, pensado e aceite, lá no alto, no fim do caminho de cada caminhante, amarrado por fios finos ao pó visível, que persegue, poético, patético e vivo.

Encho de palavras baldes e latas, que derramo, no senso que parecem ter, sempre, as palavras como rumos de descobrir o já descoberto, passadas que se apagam e se renovam, constantes, de estarem lá, no sitio delas, apagadas de permanecerem, descobertas, fundidas no tempo, de ser sempre o mesmo, em cada passada que se apaga, que se acaba passado.
Hoje sinto de Pollock, o derramar de tintas e o escorrer delas.
A procura que hoje sinto, entendo-a, no que amanhã esqueço. O abstracto de um Universo pleno de o sentir pelo vazio e o tempo de o sentir nas mãos, que o passam como desenhos que envelhecem, sempre no torno de burilar o imperfeito, que morre e vive cada instante, de serem sempre, últimos, os instantes.
Tudo parece derramar o que há, o que sempre houve, na solução de estar vivo, no derramar dela, no atar e desatar de um tempo, de o ter, de o entreter, balanceado para que se faça do não cair, o equilíbrio do pião que ainda gira.


6 MOMENTOS

18
Poder do que sinto
distanciar o que penso
distanciar o objecto
das sensações que consome
ter uma visão do Universo
do outro lado
distante e alheia
num entendimento
de não fazer parte
na compreensão
de entender sem o querer.

Sou da cama
o que também acorda
com noções e verdades
por momentos
curtos
depois levanto-me
e o Mundo é belo
mesmo quando não parece
e embargados sinto os sentimentos
todos
por momentos
longos
na opressão de um choro
interior e constante
enquanto o Mundo é belo
e único
e a vida é só uma
e única
neste lado do Universo.











domingo, 18 de março de 2012

Unidade fragmentada

Fragmenta-se a unidade na procura dos defeitos e qualidades, que a dividem de a compor una, de só ser de pedacinhos minúsculos, a media, a cor de unir as cores todas, num respirar suave inconsciente.
Os valores pequenos, aparentes, parecem crescer e transbordam, dos limites que aparentavam ser e assim se muda tudo, para que tudo possa permanecer, no mesmo local partido, em fragmentos de tempo, de sentimentos, de pensamentos que se encontram e se perdem, em cada fotografia amarelecida, num álbum desfolhado sem cuidado, num sentido de acasos, todos encontrados em cada fotografia caída, em cada lapso, que no fim se encontra, todo, no fim.
Variações e fuga da mesma unidade, que permanece no sorriso todo, de o sentir, mesmo que o não tenha. Resguardado fica sempre o sorriso de tudo todo, em cada fragmento, em cada sentir desenrolado numa linha continua, de não ter quebrado ainda.




                                    14 DEPENDÊNCIAS
2
A disposição que se diz boa
ou má
é como um fio
que a tudo se prende
e quebra
tantas vezes
no reatar dos míseros impulsos
nos sons e na falta deles
que constantes
num vício que se prolonga
dependente
oscilam entre o bom e o mau
sempre dispostos
à disposição do momento
que dos mesmos fios permite os nós
mais inconstantes
e o amarrar do que nunca se prende
num recreio de haver sempre
a razão
de não a ter
sempre.


segunda-feira, 12 de março de 2012

Domingo a Domingo

Segundo a segundo e a pressa e o que não interessa e as pausas de os dias serem todos dias, tempo e passagens como pontes que desabam, atràs, sempre no caminho escolhido, de o haver em cada esquina e tempo, longo e tudo, neste curto espaço de nada, que vale por tudo, em cada riso desabado de não valer nada.


17 TENDÊNCIAS
Monto e desmonto a depressão
como quem monta lego
e depois o desmonta
e o guarda na caixa
guardado mas sempre à mão.

Ocupo da cabeça os dedos
mexendo e remexendo devagar
importâncias irrelevantes,
que ganham importância
por serem tocadas
e largadas e retomadas
em jogos de querer não pensar
não querer ver e de olhos fechados
descobrir as ânsias, o ver e as visões
guardados sempre à mão
no montar e desmontar do Universo
que gira no meu centro
de o ter, de o ter sempre descentrado.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Momentos vazios

Momentos de não apetecer nada, tudo parece vazio, de tudo parecer branco, no reler, no recordar, no viver e não o sentir.
Escrever como compartimentos de ideias, de sentimentos, de emoções, para poder olhar deles, as diferenças do tempo, em cada semelhança que parece prolongar vozes e ilusões, luz e faíscas, de ideias sempre incompletas, em cada aposento, de ter sido escrito.
Paginas brancas de momentos vazios, permanecem como rastos que o vento logo apaga, entre estrelas e Universo, entre matéria e o vazio que a contém.


6 Momentos
3
Rio num silêncio respeitoso
da simplicidade de tudo.
A explicação que a nada leva
torna mais importante a noção da maçã
que o sabor dela
derrete as sensações, deixa pensamentos
e ilusões
que se espalham como vírus
pelos momentos todos.

A frescura da relva
já não aquece os pés descalços
e o ar puro da manhã
já parece usado
por camiões de sentimentos perdidos
por momentos respirados e acabados
no acabar de ainda aqui estar
persistente e iludido.