Fiquei a saber ao almoço e por via de um convite, do dia, que todos os dias, vivo ou sinto. Como poesia como quem pensa, penso poesia como quem come, digerindo cada segundo, no proveito, de a todos tentar sentir, velozes ou lentos. Poesia no caminhar ao lado dela e dos que já foram e dos que ainda são. Caminhar ao lado, do avô da minha Paula, no silêncio de lhe ouvir o assobio e a paz de um homem, que soube aceitar da vida, os bens todos, os essenciais, de olhos piscos, que a morte levou naturalmente, num leve assobio, de poesia, que é vida, breve, de ter tido, ter existido.
Po-Ètica, nem tenho a certeza da palavra, entendi do movimento, que pouco me diz, o fauvismo das palavras como cores primárias, num jogo de conotações, de ter palavras, de as ter sentido para as poder entregar a quem as queira sentir, penetrando nelas. Das imagens que, para mim, são o fundamento da Poesia escrita, um arredar, numa procura de não as ter como se o" Amor não ardesse mais, os albatrozes e os corvos tivessem deixado de voar e os chocolates, os marçanos" fossem obsoletos. Rembrandt pintava o branco diáfano, sobrepondo camadas de tinta, a brancura do papel chegou para outros. Mudar para renovar, não há grão de areia que seja igual, na inteira. A métrica e a rima, que encarceravam o voo, não impediram o erguer das estrelas, nada o impede. Tornear o pedestal ou permitir dele o áspero grito das palavras, é fazer sempre um só caminho, por vias diferentes, pensado e aceite, lá no alto, no fim do caminho de cada caminhante, amarrado por fios finos ao pó visível, que persegue, poético, patético e vivo.
Encho de palavras baldes e latas, que derramo, no senso que parecem ter, sempre, as palavras como rumos de descobrir o já descoberto, passadas que se apagam e se renovam, constantes, de estarem lá, no sitio delas, apagadas de permanecerem, descobertas, fundidas no tempo, de ser sempre o mesmo, em cada passada que se apaga, que se acaba passado.
Hoje sinto de Pollock, o derramar de tintas e o escorrer delas.
A procura que hoje sinto, entendo-a, no que amanhã esqueço. O abstracto de um Universo pleno de o sentir pelo vazio e o tempo de o sentir nas mãos, que o passam como desenhos que envelhecem, sempre no torno de burilar o imperfeito, que morre e vive cada instante, de serem sempre, últimos, os instantes.
Tudo parece derramar o que há, o que sempre houve, na solução de estar vivo, no derramar dela, no atar e desatar de um tempo, de o ter, de o entreter, balanceado para que se faça do não cair, o equilíbrio do pião que ainda gira.
6 MOMENTOS
18
Poder do que sinto
distanciar o que penso
distanciar o objecto
das sensações que consome
ter uma visão do Universo
do outro lado
distante e alheia
num entendimento
de não fazer parte
na compreensão
de entender sem o querer.
Sou da cama
o que também acorda
com noções e verdades
por momentos
curtos
depois levanto-me
e o Mundo é belo
mesmo quando não parece
e embargados sinto os sentimentos
todos
por momentos
longos
na opressão de um choro
interior e constante
enquanto o Mundo é belo
e único
e a vida é só uma
e única
neste lado do Universo.