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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Lou Reed.



Acabou
as brasas incandescentes arrefecem agora
acabou e do negro de carvão
surgem pontas de tempo brilhante
uma brisa viva
ergue constante
finas poeiras
cinzas de um vulcão extinto
no que fez
pujante e belo
e agora permanece brilhante e vivo
no que desfez.


sábado, 26 de outubro de 2013

11 PAPEL BRANCO de 2010

3
O bolor do tempo
passa pelas casas
pelas gentes
e de um inicio esquecido
sobejam sempre as marcas
dedadas
de crianças e não só
que as camadas, camadas de tinta
nunca tapam, de estarem lá
na recusa
no aceitar
na firmeza que enfraquece
na grandeza que de tão pouco cresce
e uma nova camada de novo tapa
mas só cobre
não tapa
e cedo se cobre de novo
de borrões preciosos
de terem tido
a vida que os fêz.

As paredes desfazem-se
nas vidas que nelas se consomem
e há dias de tudo ter a importancia
de ser importante
e há outros
que nada parece importar
como tijolos colocados
para que outros neles assentem
dividindo a importancia da parede
pelas unidades cada vez menores
que a fazem
e nada valem fora dela
e tão pouco
parecem valer nela.

Será que são negros os pesadelos
ou esta brancura tão intensa
e vazia de a preencher
com a vontade
que nela se esvazia
não será somente
a brancura luminosa
que nos faz as sombras
e os pesadelos
de sermos
nela marcados e acabados
como sombras da brancura viva
que por instantes fomos
permitidos.

sábado, 19 de outubro de 2013

11 PAPEL BRANCO de 2010


32
Tentear as dificuldades
para que tudo pareça facil.

Pentear as ideias na vaidade de as ter
não as tendo de todo
nem de parte
como quem o fez mas só regressou.

Tentar a noção do que se sente
e parar não sentindo nada
mais
longamente.


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

11 PAPEL BRANCO de 2010

29
Parei num grão de areia
que olhei prolongadamente.

Mirei aquele
entre o amarelo e o branco
universo
que na ponta de um dedo
me encontrava
perdido
desta expansão ordenada e infinita
de um Universo que me perde
desordenado e contraido

Tracei uma fina linha vermelha
que cruzou direita
uma folha de papel branco
perfeita na sua condição de linha.

Ali ficou algum tempo
sozinha e visivel e marcante
de marcar o que nem sei
mas marcando.

Depois,  há sempre um, depois
linhas sem conta, ondulantes e direitas
encheram a brancura do papel
e num instante se perde a noção e a conta
do que havia de linha direita
de ponto a ponto.

Gotas de ilusões nas gotas de sol
depois do raio da chuva que nada lavou.

Tudo se ergue de pequenos pedaços
e tudo cai na terra ou no tempo
que aturou e sustentou gerações
como ondas que se desfazem nas rochas
que desfazem
e arrastam areia que alisam
no vazio branco
de um destino incerto.

O meu olhar pisa sensações
nos lagos de sentimentos afogados
em cada bocado que viveu de pertencer
e agora aguarda o peso de pertencer de novo.

O que pesa é sempre a falta
os limites que se estreitam
o equilibrio que se renova em cada perda
e de novo se perde
no tentear os dias e as sensações
que arrastam os pés de um para outro
num jogo de empurra que se retarda sempre
na cabeça que se atraza sempre.

Preciso desta estrada repleta de sinais
preciso de ordem nestes sentidos proibidos
que a meu lado caminham
num sentido que não entendo
e por isso aceito, porque não entendo.

Marcas e limites, ordem nesta desordem
que por mim pensa e por mim vive
neste intervalo entre vazios
que me permite ser
sempre
a criança que nada sabe
e por isso remexe, vasculha
e tenta de cada garfada
a plenitude que se perde na seguinte.

Sucessão que se alonga na distancia
marcas que aos poucos vão caindo
incapazes do peso que as solta
deixando-as cair........

vou fazer a barba ao meu filho
essa marca que me verga e eu não solto
nem quero deixar, nem cair com ela

O que importa nem sempre é importante
é mais uma relação de factores que se unem
e dos quais o mais importante
é sempre o último
o que no fim sente, o que é importante
para quem o sente no fim.

Morrem os momentos
como palavras que se alinham
no sentido
esquerda, direita, alinhadas
na busca de uma noção
que dispense as noções todas
na busca da razão que se possa perder
na ausencia das razões todas
que a distancia e o tempo engole
como lixo que se arruma
para  que se possa fazer mais lixo limpo
fresco e razoavel.

Anseio sentir da casa os tijolos que não vejo
as fundações que existem e o lixo que a fez
enquanto nela durmo e como, vivo e sinto
e nela espalho visões como pinturas
de um destino colorido que se encerra.

Sentado e engolido pela prisão que me suga
espalho visões, viagens e ilusões
que só eu posso
de só eu abanar as grades que são minhas
de só eu procurar a merda que sou.

Cinquenta e dois anos e o mesmo impasse
os meus segundos parecem de quartzo
param e arrancam
e só a sucessão deles
o acumular
os esconde
guardados pelos recantos
que acumulam o desenrolar deles
que se faz mais importante
do que eles
escondidos e perdidos pelos recantos.

Ando a perder a coerência
ao certo nem sei bem o que é
mas certamente não é o meu forte.
Faço pausas de retomar o que sou
e olhando os meus, olho o que posso ser
neles
que são o meu forte.

É tudo tão relativo, tão passageiro
mas como pregos de dor e de prazer
que afundam as sensações
e ressaltam as emoções
e marcam caminhos de andar sempre
nada pára, nada mesmo
o percurso que dormindo se faz
o percurso que inconsciente prossegue
nada o pára, nem os pregos.

Tudo parece o sentido de cada grão de areia
na teimosia do vento, do cimento
para que nunca fique sozinho
numa escrita DADA que anseia o senso
de não o querer e o tem sempre
por não o querer.

Dos versos desenhados de Apolinnaire
ao abstrato repleto de formas novas
tudo é uma procura que agiganta cada vez mais
a partida tantas vezes perdida
nos cantos, nos sensos, nos sentidos
estuantes, pulsantes e vivos
de serem da fuga o constante regresso.

Do mal eterno à beleza efémera
hoje o Vetell sagrou~se campeão
e o Benfica ganhou.

A desordem que vive na minha cabeça
ordenou-se de novo
numa desordem mais remexida.

Tenho o vazio das certezas que não tenho
apraz-me o surrealismo de sentir que não vivo
e sentir o vigor do cansaço
em cada Kafka de cada esquina escusada.

As cores de tudo ser branco
escorrem como areia no tempo que as mistura.

A certeza de tudo ser incerto
permite sentir certo
o que se esvai, o que cai
como certezas que se erguem
da incerteza que nada segura.

As ondas que se enrolam levam o que trazem
e trazem o que levam
num mecanismo que afoga as perguntas
nas respostas que enrola constantes
como um borrifo eterno
como saliva que de novo se engole.






domingo, 13 de outubro de 2013

Grão a grão gota a gota.


Água que aprende as formas de ser contida,
água que extravasa limites e se espalha,
preenchendo recantos,
inundando espaços,
dando e tirando no baloiço do incerto,
do que não se repete e assim se faz perfeito,
de não haver volta a dar ao que está feito.

O perfeito de cada segundo,
relativo e sempre primeiro,
o confinar das sensações ao invólucro que as contém.

Água que se pinta das cores todas e do sujo que limpa,
arrastando nela,
o sujo e o tempo que acabam sempre limpos.

As gotas unem-se nas poças que transbordam,
ou evaporam.
Escorrem de um lado, escorrem do outro lado,
são nuvens e são gelo, são o fundo e a superfície,
são águas que param e águas que correm.
Dos sonhos que sobrevoam se faz o fundo de engolir tudo
e o flutuar é uma forma de estar entre abismos,
de permanecer de ser.

Ouço sons que crescem,
melodias que se fazem minhas de as ouvir na minha plataforma,
grão a grão de areia fina,
gota a gota de entender molhando hoje,
secando ontem o entender que se perde em partículas
e com elas se recupera novo,
no tempo de o perder de novo.

Cantos de esconder tudo, cantos de os sentir encantados.
Baloiço de imagens e de sons.
Miudezas que fermentam vastas diferenças
de as haver sempre.




sábado, 12 de outubro de 2013

Aqui e ali.

Daqui para acolá
são cem passos que eu não conto.

Não sei dos passos o que foi mais importante
sei que parti
sei que cheguei.

Sonho que flutua nos passos
de nem os sentir.

Depois afogam-se
na passagem
porque sinto e passo.

As palavras ditas
juntam-se
às que nunca foram ditas
e nada se faz diferente
nada muda
no ouvido ou na mente.

Alongam-se as palavras que nada completam
e o silêncio
depois
parece prenhe de pleno
de sabores e caminhos
de fins caídos
de recomeços tímidos.

Paisagens que se fixam
em momentos de os viver
como quem morre.

Rostos e gestos que se despedem
e permanecem vivos
como paisagens de estações
tantas alongadas em tantos passos
trepidantes confusas sensações
nesta volúpia de estar vivo
e querer guardar tudo
num montão que se ergue confuso.


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Os fins acumulados.

Da superficie se desvenda o fundo
nas arestas que irrompem sempre
num atrito constante
de acomodar sempre, limando sempre
de vontades distintas o roçar que acomoda
das pontas soltas o faiscar
dos cabos soltos enterrados.

São diferenças sempre pequenas
que se fazem vastas
mas o tempo e a distancia dilui o acumulado
no varrer dos detritos
do tempo
de poder acumular fins
esbater cores
ainda
no escorrer de pensar em nada
e sentir a pequenez de tudo
como ter alma
mas sempre emprestada.

domingo, 6 de outubro de 2013

De 2011" 10 Luís".

9
O Inverno e o Verão,
a Primavera e o Outono
existem para me lembrar de ti.
As flores murchas e as viçosas
que seguem num caminho de acabar
todas me lembram de ti.

A secura e a água que corre abundante
parecem mudas
e contudo berram a tua falta.

São os rapazes e as raparigas
os velhos e os novos
a folha castanha e o verde fresco
o céu azul e o céu nublado
o sol quente e a falta dele
que de tudo se fazem lembranças
da falta que me fazes.

Tudo concorda, tudo acorda
tudo parece um só dia
de discórdia
um só, um só dia
que ainda
não acabou.

Claudia Mafalda e tantos.

Ontem as minhas sobrinhas realizaram um evento
em beneficio do meu filho Luís.

Musica que não procuro encheu a sala
e o espaço por momentos pareceu um só corpo,
respirando e movendo-se
como se a musica que eu via
fosse tocada por cada um dos que se moviam,
mal ou bem todos se moviam
e de todos se soltavam acordes de uma melodia viva.

A Paula e o Vitor, o Luís em casa com a avó
e eu com a cabeça de olhar,
olhei a musica da sala toda
e agradeci a entrega e o empenho de todos
e em cada um me parecia ver o Luís,
naqueles momentos bons
que guardo como joias
de não as poder usar mais.

Desde 3 de Julho de 2009
que sem esforço me habituei a permanecer em casa,
o esforço guardo-o para me agarrar ao que tenho
do meu filho e dos meus,
criei uma gaiola dourada e é quando saio dela
que me sinto preso.

Ontem senti o Luís em todo o lado,
" Moon walking" como um rei de sorriso aberto
aos conflitos todos
que só de o olhar,
pareciam, pareciam resolver-se.

Ontem fiquei agradecido, ficamos agradecidos
a tantas pessoas, tantos desconhecidos
e o Luís vegetativo mas vivo
parece que dançou enquanto dormia
tanto se remexeu, sereno, em paz.

OBRIGADO: