4
Sonhei ser o
reflexo vazio
de
um espelho que me continha
e
tudo me roçava e tudo a meu lado passava
num desgaste lento de sensações
vazias
que
o tempo comia que o tempo trazia
enquanto o reflexo vazio se mantinha
nos
riscos que nele se cruzavam
sem
dele fazerem parte
cada vez mais fraco, cada vez mais fraco
mas
sempre vazio.
5
De
vez em quando acordo
e
nem minha parece a voz que ouço
e
logo calo
enquanto sonolento penso
e
logo me canso.
De
vez em quando penso
em
desejos que o tempo come
antes que a posse lhes dê fim.
De vez em quando penso
no
que é e logo deixa de o ser
enquanto o traço se alonga
de
ponto a ponto
ondulando
inconsciente.
De
vez em quando penso
no
assobio que a velha já não ouve
na
criança esfarrapada que por mim passa
e
eu passo e ela passa e eu penso
e
nem sei o que penso mas penso.
De
vez em quando penso
com
saudades do que ainda não veio
e o
pensamento calo
no
gozo do momento que já veio
e
se vai enquanto penso.
6
A
quem não sabe pedir
entrego o fastio que por mim sinto
por
mim que não sei pedir
que espero o que mais quero
à
porta do que não quero
e
aceito o que vem
em
escolhas que nem sinto
e minhas faço.
7
Poder de mim banir
este vazio de palavras sem sentido
e
sem palavras construir vivas verdades
ganhar sentidos
não
ser o que sou de vazio.