No meu primeiro livro de 1986 e publicado em 2013,
há como sempre haverá em tudo que escrevo, textos sobre,
à volta de, em redor de Pessoa.
JORGE BRAGA
Nasci a 29 de Setembro de 1958
Aos dezasseis anos sonhei que
poderia escrever bem. Rasguei o
que ia fazendo até 1986. São desse
ano os primeiros textos deste livro.
Foi assim que me apresentei e no dia de
hoje os partilho, quase infantis na distância,
estes dois textos com " Álvaro de Campos"
na cabeça.
9
Um
pouco desse calor de consciente vivo
desse
sol que me treme
e
eu sentia mais o que já sinto
seria
mais consciente do que vivo
nesta
inconsciência que me vive.
Sou pedaços que uma mão acaso
de
muitos tentou fazer um.
Em mim não há estrada
e
Sintra é uma pena que sinto e não tenho
em
mim há vida e há restos que faltam.
Sem Chevrolet passeio emprestado
ao
que me rodeia por estradas de ninguém
passar
é ser sonho que pisa chão
procura
que do encontro foge
sonho
sem sonho que se sonhe.
Umas vezes mole e outras duro
na
mesma me desgasto no que não é meu.
Passa tempo nevoeiro
com
marcos que confundem
viagens
que não faço a vazios que desconheço.
Passa
o que passa e eu passo
nem
comboio nem ponte
ilusão
passageira.
11
De
ti fiz um monolítico monumento
a
uma divindade que não foste
a
uma divindade que desconheço.
És profeta de verdades que não alcanço
és
questão de respostas que o infinito me perde.
A teu lado serei sempre fraco mas aguento
a
tua mensagem não me encontra
porque
perdido a procuro.
Em
teu redor ando em teu redor vivo
nada
me impedes, nada me roubas, nada me dás
e
tudo me vais dando, impedindo e roubando
em
pequenas escuridões que se fazem luz e logo se apagam
em
momentos que nunca serão meus e logo acabam.
Em teu redor ando e nada pára à nossa volta
num
tempo que só teu é me perco
enquanto
passa o tempo de ser eu.
Vivo e canso-me e cansado vivo descansado
sem
pressa te olho sem pressa me olho
nos
segredos que em ti cavo um pouco me decifro, um pouco
sempre
um pouco, sempre um pouco me decifro e me perco.
Em teu redor ando e o mundo nos rodeia
e
há universo e há infinito
e
há deus que não creio e fé que me foge
há
céu azul e longos cantos de alegre tristeza
castelos
virgens que o sonho não sonha
há
pedaços que tudo fazem e eu no meio
perdido
ou desencontrado, procurando ou vivendo.
De ti não quero respostas
a
questões que são só minhas e desconheço.
De
ti a diferença me basta a igualdade me inibe
tiveste
caminhos mas são teus
não
dás boleias, nem a ti me desejo agarrar.
O que tenho não tem o que tiveste
e
a tua luta de espelhos vazios foi só tua
em
ti se partiram e os cacos são só teus
só
tu os sentias só tu os vivias
o
meu fervor por ti é falso
o
que sinto é através de mim que o sinto
é
falso mas é único, és único.