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quinta-feira, 25 de outubro de 2018

8 2011




PRECURSOS DOS PERCURSOS








1
O fluir da água límpida e fresca
marca num ritmo próprio
o tempo
nos detritos que arrasta
ou transporta
diferentes.

São dela
na corrente que os arrasta
ou transporta
diferentes
no tempo
que de todos fica
o tempo de todos.

O fluir da água
límpida ou turva
marca no que limpa
ou suja
o tempo que passa
no que arrasta
e fresco ou quente
por todos passa. 





2
Foi como ter nascido colado a um edifício
e durante muito tempo
o Mundo foi a visão daquela pedra
que arranhava, lavrada num pico grosso
velha de muitas intempéries
e de tantas cores brilhantes
formadas rente aos olhos
como visão única.

O tempo e a consciência
foram descolando as visões
e devagar, muito devagar
permitiram a distância
e as pedras foram-se multiplicando
.
De inicio ainda as sentia distintas
mas pouco depois
já só pareciam
pedras iguais.

A visão da primeira parede foi maravilhosa
e criou a urgente necessidade das outras
que longamente foram apreciadas
na lentidão de um longo trajecto
na distância segura das visões
que pareciam certas
e rodeavam o centro
que parecia certo mas distante
na distância certa.

Depois veio o cansaço
e a vontade de pertencer.

Tentei encurtar a distância que se alongava
e encontrei portas,
muitas portas nas paredes todas
e das que não tinham a minha medida
às que estavam fora do tempo de as ter tido
nenhuma me servia e eu continuei andando
naquele vazio de andar em circulo
num desgaste de pedras interiores
incapaz até de encontrar a primeira visão
perdida
no sucessivo acumular
de pedras iguais.




3
Cortei hoje do acer negundo
o galho em que o meu filho
se pendurou
e mais dois para equilibrar
a contenda exterior
porque da interior já os passos dados
se fizeram tão pesados,
tão repisados
que nada mos pode cortar.

Eu tenho dois filhos
é o presente que ainda me resta
um é novo e saudável
o outro novo é e está em coma.





4
Comi lá duas vezes
serviam mal e cobravam caro
depois fechou.
Comi lá muitas vezes
serviam bem e cobravam pouco
depois fechou.

Foi assim que.

Assim eu aceitei a multa de ter cão
no receio da multa
por não ter cão.


















segunda-feira, 22 de outubro de 2018

7 2010


ELEMENTOS  DO  ESPÍRITO





1
Depois do frio,
vem o sol que não escalda
mas amorna do verde,
o frio e o agreste da noite.

As cores estão mais nítidas
e têm agora as formas
de serem reconhecíveis
pela cabeça que nelas repousa.
São como elementos
de um espírito benevolente
que as deixa inundar de uma luz
que parece a de ontem
mas com mais paz luminosa.

A luz de hoje não é de ontem
o que sinto hoje
não é o que senti ontem
o desequilíbrio de ontem
não é a falta de equilíbrio de hoje.
O descanso de hoje tem a luz
que ontem não tinha. 





1/1
Pequenas parcelas
quase imperceptíveis
permitem a osmose
do exterior de coisas
com as coisas interiores,
quietas e sossegadas
do cansaço,
de nem ele poder ser perfeito.
Por isso tudo pode ser feito,
sem pressa
na união dos elementos
que mais pesam
aos que permanecem
mais leves
num equilíbrio
de opostos.





1/2
O repouso do espírito
pouco habituado ao que é belo
de ser simples,
ausente do conflito e das questões
é sempre tão curto,
sempre pouco.

0 que é simples acaba sem aviso
na simplicidade
de ter sido simples
de ter sido e acabado.






1/3
Perdem-se tantas vezes
os verdes tão diferentes
que alcanço
e gostaria de conservar
afastados das perguntas que faço
como fuga
a um fastio que só eu sou
cansado das perguntas
e alheado das respostas
que nem espero.




2
Dar e arrepender de ter dado
de nada serve
e só inibe o dar ainda mais
na  procura do que respira
como respiramos.

O que chama e incentiva
o que de nós é melhor
numa dádiva nossa,
ao que nos aguarda
de nosso.




Sem pressa aguarda o nosso aguardar
sem pressa e nosso.




Aguardo o elemento catalisador
que me erga
da modorra de uma busca
expectante
para o proveito
de me sentir proveitoso.

Fora de mim, longe de mim
numa dádiva
que ainda não me encontrou
mas persiste certa
e no tempo que passa
com firmeza se agarra.

Eu sinto
fora de mim, em cada dádiva
muito longe, no que aguarda
sem arrependimento, o que nem entendo.












sábado, 20 de outubro de 2018

6 2010



MOMENTOS 







1
Há momentos de aparecer
ou esquecer.

A vida é feita do que surge.
Há momentos dolorosos
e outros que o não são
mas agora que nada vejo
além da impotência toda do universo
mais a minha bem maior
agora que a dor é constante
e eu nunca senti nada tão vasto tão incontornável
agora tudo se fez ridículo
tudo se resume a pouco
nada tem o sabor que eu perdi.

Aturdido esqueço o que não aparece
o que me faz falta já me sobra
na vastidão deste vazio.

A minha riqueza está nos meus filhos
de que me servem as rugas, o que pensei e o que emburrei
sem eles.
O meu corpo, o meu sentido, a minha vida
é deles
são o que eu não sou de serem mais do que eu
as minhas esperanças, o meu prolongar, a minha perfeição
de serem eles.

Esqueço o vazio agarrando e vendo o que surge
esqueço o que não vejo, o que não surge.

O que perdi é agora o que sempre quis
tudo parece esquecido, tudo perdeu importância.
O que penso é feito de segundos somados um a um
num rasto receoso de perder o que ainda há
agarrado ao que escorrega, ao que desliza, ao precário
que agora parece nada sustentar
e contudo agarra numa teia fina de fragilidades
o que ainda há, o que ainda é 
o que ainda é tudo
e eu guardo, momento a momento
no repouso de quem aparece e eu não esqueço.







2
Momentos de serem longos
ou curtos
momentos que passam
como passa tudo
momentos de dor
momentos de alegria
momentos antes, momentos depois
numa sucessão que por momentos quase pára
mas ainda não o fez
no ser que já era
no é que já foi
no que persiste e ainda procura
a côdea que envolva
os momentos que se acumulam quentes
e depois param e arrefecem
acabam e no que se renovam
nunca mais são os momentos
nos momentos que depois
sucedem.







3
Rio num silêncio respeitoso
da simplicidade de tudo.
A explicação que a nada leva
torna mais importante a noção da maçã
que o sabor dela
derrete as sensações, deixa pensamentos
e ilusões
que se espalham como vírus
pelos momentos todos.

A frescura da relva
já não aquece os pés descalços
e o ar puro da manhã
já parece usado
por camiões de sentimentos perdidos
por momentos respirados e acabados
no acabar de ainda aqui estar
persistente e iludido.





4
Vomito o que penso sentir
e por mim pensa e sente
qualquer um sempre
mas muito, muito mais.

Na hora dos abraços
que já não há
da compreensão
que nunca houve
tudo se ergue tão estreito
que o que vejo
é tão vasto e sem mim
que eu me perco
e tudo é perfeito
fora dos momentos
que nem meus
parecem.















quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Correndo

O Poema  que anseio
é sempre
o que escrevo  e  logo apago
ciente do espaço
do tempo
de sentir
o retardado
desta compreensão  tardia do...do...
passo atrasado
no tempo
no espaço
sentido
desta areia escorrendo lenta do...do...
momento
eterno
como gota
do oceano
correndo

terça-feira, 16 de outubro de 2018








NEGRO   LUMINOSO




I want with the difficult of the moment
so recent and with so much pain
I want to tell the story of the most beautiful head
outside the smile of the champions
the sun to everybody
inside the illness of no reason
the darkness of the silly nightmares.
All the words of all the world and I don’t have one
a single one to explain so much pain.

We have in our brains, the universe
we have the dreams and all the darkness
and sometimes we have no mind to make the choice
between the dark raven and life itself
 
All the possibilities in my head
and all are made of, if maybe
and always never more
with no raven, no more talking
no more, never more
maybe my dearest child, but you know
I have your brother and your mother to love
and all the people, since the first day
they are always saying to me:
“You need to be brave, you need to be brave”.

I’m brave, in my weakness, I’m brave
I need to be alive to have my heart full of memories
and to cry the most beautiful Portuguese word
saudades.




    
1
CHINA
Lentos imagino 
que se movam os camiões  
que os levam
a uns fardados  
a outros algemados
na viagem que para uns é longa
e para outros se faz tão curta
no fim com uma bala na nuca. 








2
Repetir mil vezes os mais simples gestos 
para nunca os sentir repetidos
no sabor que lhes dá alento
no sopro que os alimenta 
e os faz únicos                                                                                                                segundo a segundo pulsando únicos.

Únicos
e depois há sempre um depois
algumas vezes um antes
compartimentos que se fazem estanques
limites ao que houve
ao que há
numa aprendizagem do infinito
que parece ser nosso
mas cedo se acaba
e nem dos trapos resta o suor
do uso. 



3
Esquecer os maus momentos                                                                                      no cansaço que nem assim os esquece.
Sentir dos segundos os que se vão
e os que ficam
enquanto as certezas se firmam
como lapas
à certeza única que com elas se vai.

Perco a importância dos maus momentos
no cansaço que nem assim mos acaba.

De tudo se faz um resumo
que se vai esquecendo sempre, sempre.
Dos pedaços que agora parecem pequenos
e nunca o foram, nunca o foram
de todos se faz o resumo de uma vida
e todos foram vividos
e o resumo é sempre o mesmo
curta ou longa foi
e deixou de o ser.  



4
Meu anjo de asas queimadas
querias voar
mas eu nunca tive
o que te faltou de asas e sossego
que eu nunca tive.

O que te faltou
diz-me baixinho para que todos o ouçam
no teu silêncio.

O sossego que agora tens
envergonhado anseio roubar-to
na culpa de não te ter dado
na culpa de te querer dar
o egoísmo de me fazeres falta
a mim a mim
sim a mim.

O que te faltou
diz-me baixinho para que todos o ouçam
no teu silêncio.

A falta de ti que me magoa
mais o pesadelo que me deste
e eu nunca poderei esquecer
mesmo que do teu descanso
te consiga roubar
mesmo que contigo me possa aninhar
para que me digas baixinho
o que te faltou no teu silencio
que agora estoura
na minha cabeça vazia de estar viva
e nem o sabe.

Diz-me baixinho, o que te faltou
para que eu possa do que me falta
sentir o que te faltou
e baixinho, baixinho quero guardar.


segunda-feira, 15 de outubro de 2018

4




CÍRCULOS QUE SE ESTREITAM
VASTIDÃO QUE SE ENCERRA 





1
Desconfortável se acomoda
este sossego que não existe
e assim se partem sempre
do que nunca se foi
os folhetos das viagens
que nunca se farão.

Partidas pela vastidão de todos
que todos perdem.

Acomodam-se na poeira que se acumula
e já nem se ergue
as promessas todas
das mentiras que nunca se foram
esquecidas das partidas
pela vastidão de tudo
que todos perdem.

De cada buraco
se erguem verdades
e com elas tudo se faz
e nelas tudo se encerra
para que seja sempre pouco
da vastidão de todos
o que todos podem.     





2
Do segundo
que nunca me foi permitido
se fazem distantes
os segundos que me permitem
e a todos eu agradeço
na esperança que não acaba
e por ele constante aguarda
nesta desculpa que me reveste
desta culpa que me esquece. 





3
As palavras alinham-se todas
e nada dizem
vazias
transbordam vazias.

Sinto-me tão cheio
de um vazio de tantos
que não posso ser de tantos
o vazio que me enche.

Cantam enormes
as palavras que não escuto
alinham-se todas
uma por uma vazias
de um sentido que nunca houve
na procura que lhes deu sentido.





4
Ciclos se atravessam
e se acabam
enquanto se redura
do que se pode
o circulo que nos enrola.

Paro e no que penso
penso sentir
e assim me conservo.

Voam livres os pássaros
que caem como tordos
que descem e se acabam
na boca de todos.

Paro e no que penso me sinto
me conservo
nesta moleza que me dura.


3


 

SEM  PAUSAS  NEM  ARREPENDIMENTOS







1
Forneci batatas
forneci água
forneci o tacho
forneci o fogão e o gás
e nunca tive a chama
que me fodesse.





2
Sinto-me tão breve
momento a momento
neste afundar das certezas que não tenho.

Sem tormento
aguardo incerto
e sossegado
aquilo que sempre houve
e não agarro
sedento.

Sinto-me tão breve
momento a momento
no afundar das certezas que não há.



3
Agora que o sol vai alto e o calor aperta
me sinto sedento de uma sede que desconheço
me faço de um sossego que não existe carente
e aguardo sem pressa o dissipar do que há
na certeza que ainda me mantém

De um nevoeiro que cedo se dissipou
me surgiram cerradas as certezas todas
que cedo se extinguiram
e com elas não morri.






4
Quem sente por mim este fastio que se alonga
esta pungente falta de uma dor que me dói
este sossego que não sossega mansamente quieto.

Quantas palavras se perderam no poço que eu sou
e agora clamam o socorro que não posso
porque não posso sentir o que sou no que sinto.
E longos ses arrastando-se no rasto
que eu persigo em longos trilhos esbatidos
que eu sigo e comigo tudo segue
sem que eu o sinta.

Por nada rangem os meus ossos
no rugido que em mim se abafa de o não poder.
Nada me admira em nada me iludo
nesta ilusão que vivo e de mim se admira.
Não houve aprendizagem que fizesse
atamanquei conhecimento
que agora sinto nas teias que me enredam esvanecidas
por tantas aranhas que por mim pensam
enredado ou arredado
nos escaninhos bolorentos esvanecidos.

Tudo o que engoli é um vasto nada que de mim transborda
carroças silenciosas encaminham fantasmas
que são o que eu sou de os ter tido e nunca os tive.
Penso, penso, penso e nunca (por pensar) me faço mais do que já sou
e por mais que o faça não há brisa que não desfaça
o que penso e se desfaz inútil
no que em mim sinto longo e fútil.

Tenho sensações como todos e ninguém
tenho soluções que se acabam desfiadas na linha podre
que me amarra nas ilusões que eu sou e sinto.
Revolto-me em cada passo do atraso de que me faço
e por mim passam soluções que não abraço
das ilusões que não alcanço.

Que sou eu além de um bolor que se perdeu
que sou eu além do que penso sentir de dor
no que não sinto afinal em nada que me valha
além do que em mim sinto e me falha. 

2


O ENCONTRO DAS DIFERENÇAS 







1
O que me toca me faz seu
no que me dá
e para sempre fica meu.






2
Cansa-me o proveito que não aproveito                                                               
de me sentir tudo                                                                                      
porque em tudo me sinto.
Cansa-me o ser que não me sinto                                                                         
de nada ser                                                                                                
porque tudo me é alheio.  






3
Sentir que tudo poderia ser diferente enquanto as diferenças me inibem
na escolha que me sinto retardada.

Sentir que tudo se resume a pouco
enquanto complico a minha procura                   da migalha que sou e não encontro.

Sentir que me elevo nas estrelas
enquanto me doem os pés de serem meus  no lixo que os agarra de ser meu.

Sentir que penso e que sonho
enquanto o proveito de o fazer      
nas mãos que nada agarram se vai. 






4
Adormecidos numa névoa sonolenta 
que ao meu presente dá firmeza                                                                                                                                              
recordo instantes da minha vida  adormecidos entre passagens.           

         Passageiros de mim.      

No sorriso que mantenho há lágrimas secas                                                            
chuva que não cai sol que não há  
tristeza num escuro vazio                                                                              
que não vejo mas sinto.

         Não vejo mas sinto.

Estes dias que morrem
sem que os sinta nascer
esta esperança que me entardece
e perdura esquecida e minha.

         São passageiros que me passam
         que não vejo mas sinto
         esquecidos mas meus.