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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Guardar os instantes emprestados

Falar do que se guarda lá no fundo
ou calar no fundo
o que se guarda
e só custa o preço de estar vivo.

Falar da minha mãe ou do meu filho,
do que passa e do que fica,
do" senta" repetido e eu sento
olhando dela o que me sinto de velho,
sentada e o meu filho deitado.

"Poemas em linha recta" dos dias todos,
todos os dias e a preguiça de estar vivo,
o calor e o frio das sensações que se calam
de guardadas.

Pontes caídas de atravessadas no calar o que mais custa.
Palavras e o perder delas em cada giz que se apaga,
em cada noção perdida,
em cada certeza incerta
no baloiçar dos momentos todos,
sentidos para de novo os perder,
frescos
renovados e guardados
e de novo perdidos.

Um dia chove e no outro também,
num há sossego e no outro não.
Dormir na chuva que embala,
acordar na que teima cair,
molhando o já molhado,
escorrendo pelos cantos,
formando riachos de saudades e barquinhos de afundar
no encharcar do papel.

Hoje tenho as soluções todas
de ontem
mas hoje não funcionam.


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

As coisas e os seres.

Primeiro sentir e depois tentar entender de cada alfinete, de cada afago a razão deles, no que tocam, no que aleijam, no que deixam.
Perdurar e a chuva cai e o sol não vem, durar e os mortos enterram-se e continua o que continua.
O sol vem e a noite cai, na arca do costume se fecham os sonhos de dormir e os sonhos de acordar.

Hoje sinto o sossego
de o poder sentir
nada está pior
aparentemente.
As coisas e os seres parecem circular
numa utopia flutuante.

Abrandei
não sei o tempo que dura, são momentos sucessivos lentos
que duram o tempo de os sentir
passar.
As coisas e os seres circulam
e deles retiro o que sou
pedaço a pedaço
nos momentos lentos de me sentir repetido em cada coisa
em cada ser.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Nada antes nada depois.

As causas e as consequências, a divisão lenta da pedra e do tempo por praias sempre inteiras, de areia fina como farinha de ideias moídas como tempo que na pedra se desgasta, grosso e sem jeito, fino e escorreito como óleo fino de tempo preciso.
Preciso de causas
de dormir nelas
para que me acordem
nas razões de antes
nas razões depois.
Acontece de tudo e a chuva parece sol para que o sol possa ser chuva e o frio entra e o calor, o triste, o alegre nesta rotunda de deixar entrar as linhas direitas que nela se enrolam, guardadas como novelos de emoções, nós de confusões, novelos de sensações.
É tudo tão inteiro em cada fragmento, destacado em cada rocha que escorre dos dedos do tempo.
É tudo tão inteiro em cada momento.
É tudo tão inteiro.

Nada.
Angustia de haver um centro,
um sol negro de iluminar as sombras
dantes e depois
brancas.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O prazer da espera

Ouvindo a nona corrigi pela terceira vez o "Actos Necessários". Três pequenos livros num só e esta espera de os ver na rua.
São os melhores por serem os primeiros.
São só os que já foram há mais tempo, vivos entre 1986 e 1997, vivos ainda na companhia de mais 15 que brotam da secura de estar vivo, permitindo a frescura de ainda estar vivo.

A Editora Chiado a cumprir prazos e o tempo que não passa. Esqueço do aguardar o gozo dos momentos todos e os segundos passam na mesma, gozando comigo e os meus prazos sempre fora de prazo.

Escrever como atravessar pontes, sem dar conta ou olhando do outro lado, o caminho feito, as tábuas soltas, as pedras tropeçadas e a paisagem que caminha dando a cor dos momentos e a dor e o frio e o calor, frenéticos, ansiosos e pacíficos algumas vezes.

A capa está pronta e agora só me resta aguardar.


13 Pontos de vista



36
A depressão cura-se com apoio
palavras amigas e sorrisos
sorrisos de compreensão
sorrisos de dentro para dentro
no querer descobrir as estrelas
que habitam cada vida.

A depressão cura-se pensando
percorrendo os pontos todos
no fechar de um arco de estrelas
cadentes de um ponto de partida
para um ponto de regresso
tardio, escusado mas necessário.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

12 de Janeiro

Escrever o que me enche a cabeça, nada ou variações do mesmo tema, de nada ou de seguir e o tempo passa. No dia 12 o Luís vai fazer anos, quatro de estar deitado, de estar vivo e dependente. Já não é bipolar e o nível de consciência é um enigma que aquece o meu frio de estar vivo, o meu calor que ele refresca de estar vivo.
A mãe, o irmão, eu e ele é como ter o Universo dentro de casa com a minha sogra e os outros, os que passam, como brisas diferentes, como postais de haver mundo fora do meu Mundo.
Escrever o que me enche a cabeça de negro e faíscas, de brancura e vazio, depressão e culpa de ele ser meu e não ter pano que enxugue o caldo entornado, enquanto o tempo manso me habitua ao que sobrou e a revolta fica só minha, só e minha.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Chiado editora

Revejo textos com vinte e sete anos de marcar instantes, quadrados de um tabuleiro de comer e de dar, de perder e receber, quadrados e linhas de marcar os antes e os depois. Revejo a melodia de cada um, um a um, alheado dos sentidos das palavras, ouvindo somente os sons unidos de os ter havido.
Três pequenos livros num só.
A Editora Chiado vai publicar em Fevereiro
 um livro de jogos em várias partes,
  jogos de poesia ou de vida,
   de xadrez no ritual branco e negro,
    tudo e nada,
     e são meus de terem sido
      muitos antes, do agora, de agora.

      Um regresso a tantos antes
     uma curva suave no tempo 
   como se as palavras fossem pontes de transpor momentos
  filmes de viagens
 de
dentro.

O calor das brasas extintas perdura nas de agora
das coisas mais suaves se sente o atrito que as fez
suaves na ponta dos dedos
rachadas e partidas por dentro
dos dedos.