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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

13 Pontos de vista

32
Escrever por necessidade é deixar fluir
o que interessa e o que não interessa
para que num riso de supremo alheamento
a noção de que tudo interessa
nos possa invadir
iluminando o cotão e a poeira
de cada prateleira
de cada livro de cada dedada
de cada segundo
de cada passada.
Necessito escrever ou escrevo por necessidade?
Marco ou preciso de marcar
o que vivo
para poder viver
ou sentir que vivo?










13 Pontos de vista

29
Desde setenta e quatro
quase sem o notar
que a natureza parece irromper
livre, pujante e forte
dos fins de Março, até vinte e cinco
de Abril
depois amocha e as liberdades que pareciam
possíveis
amarelecem
num estio de areias e gotas contadas
evaporadas delicadamente
em cada cabeça que as espirrou
em cada partícula de pólen
em cada semente madura de liberdades
verdes
que o gado pasta como sempre o fez
para que se faça
dos dejectos
o proveito fértil da próxima colheita.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

12 A B C

34
Ajustar as medidas
tirar de cada segundo a importância
de cada um
alinhar palavra por palavra
o verso e o reverso
de cada uma
como se cada grão de areia
fosse a praia inteira
como se cada gota
fosse o oceano todo.

12 A B C

31
O tempo absorve as dores
alegrias
solúveis no segundo que as digere.

Dos prazeres e do sofrimento
quase tudo se esquece no calor que esquece o frio
no frio que não sente o calor.

De um manto cinzento rompem fios dourados
e negros
como restos impossíveis de esquecer
ainda
como marcas
como espaço
de um espaço que se acaba.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

11 Papel Branco

50
O melhor de mim está no que sinto
de o fazer
ou de o não fazer
mas de o sentir
como tostões que se espalham
na aparencia de não terem valor
como segundos que passam
na aparencia de nada valerem
de tão breves
de tão curtos
um a um.

domingo, 27 de novembro de 2011

10 Luís

9
O Inverno e o Verão,
a Primavera e o Outono
existem para me lembrar de ti.
As flores murchas e as viçosas
que seguem num caminho de acabar
todas me lembram de ti.

A secura e a água que corre abundante
parecem mudas
e contudo berram a tua falta.

São os rapazes e as raparigas
os velhos e os novos
a folha castanha e o verde fresco
o céu azul e o céu nublado
o sol quente e a falta dele
que de tudo se fazem lembranças
da falta que me fazes.

Tudo concorda, tudo acorda
tudo parece um só dia
de discórdia
um só, um só dia
que ainda
não acabou.

Domingo

Domingo e a rotina dos meus, o refúgio do conhecido, ando sem me mexer, quase sem me mexer, de um pico para outro, de serem meus, porque eu sou deles e o que faço, no polo certo na corrente certa permite certo o que faço e o que durmo, de serem eles o meu sonho, os meus picos, as minhas irritações e as minhas venturas todas, mais as que nem sonho de serem do que sou, o que nem sonho ser, amarrado a eles e a mim.

sábado, 26 de novembro de 2011

9 Analogias de tudo e de nada

50
Há lodo no cais das minhas partidas
e uma flor por vezes
ou um sorriso de criança
e os meus, os meus
que me seguram,
amarrando
a minha fraqueza à força dos sonhos
que ainda posso
e como velas brancas por desfraldar
esquecidas do sonho das partidas
se faz o que enrolo
como mortalha
de um charro que nunca fumarei
e me enrola como velas esquecidas
de navegar ou de arder
de ser ou acabar.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

8 Precursos dos percursos

39
Viver
é como cozinhar bacalhau
há mil maneiras de o fazer
e há quem o faça bem
e há quem o faça mal.

Do melhor peixe
uma porcaria pode surgir
enquanto do mais fraco
se consegue um petisco.

Na troca de sabores
que refrescam o paladar de sentir
tudo se aproveita do doce ao amargo
das espinhas, aos ossos
enquanto dura o tempo de comer.

No fim da refeição resta o fim dela
os sabores não voltam atrás
o que foi aproveitado num instante
é digerido no proveito dos momentos
no momento aproveitados
e acabados.

O meu filho decidiu desistir com o prato ainda cheio
e eu estou aqui
incapaz de o ensinar a comer a vida
com o apetite de um estômago vazio,
jovem e ávido.
Fui incapaz de lhe dar a paz
a paz, nem sempre possível, de comer da vida
os conflitos, as quebras e o que custa
que com ela se pagam
mantendo-a.




quarta-feira, 23 de novembro de 2011

7 Elementos do espirito

39
Somos feitos
de areia amontoada

seca ou húmida

do vento ou da água
somos o recreio

somos a imagem
do acaso
que molda e desfaz
acumula e amontoa
e consegue dar tudo
parecendo nada dar

consegue ser tudo
parecendo não ser.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

6 Momentos

12
Curtas distancias se fazem tão distantes
curtos instantes se fazem tão
distantes.

Curtos passos, momentos e nada fica igual
do que parecia ficou a parecença
como um guia para o que houve.
A forma que há da forma que havia
um esqueleto de sensações
um apodrecer de sentimentos
alicerces que se desfazem
nos alicerces que se refazem.

Pedras que se movem
nas pedras que permanecem.
Tudo se faz mesmo sem ânimo
nem esperança.
Tudo se faz necessário
para que haja mudança.
Como tijolos da mesma fornada
do serem todos diferentes
se faz a igualdade que os assenta.


domingo, 20 de novembro de 2011

FRAGMENTOS 2 e 3

FRAGMENTO 2
A busca do real como um sonho que se esfuma
aos pedaços
lavados ou perdidos
acompanha-me em cada leitura da Tabacaria
perdido nas razões de não a ter
nunca
em cada leitura de serem sempre
diferentes
os momentos e a luz de cada um
enquanto me sinto
um amontoado de fragmentos
que se ajuntou
e desconheço
quase
completamente.

FRAGMENTO 3
O caminho é feito de passos
e cada um
por mais curto que seja
se faz uma unidade de um todo
abarcante e desconhecido
que passo a passo se vai esquecendo
mas permanece latente
num ter havido
em cada passo torto ou direito
a sensação de os ter tido
esquecido

de serem como gotas
que enchem um copo
que depois vazam

numa fuga quase insana do vazio antes
do vazio depois
enquanto dura esta sensação de vazio
duro e antes e depois
durante.

RTP

Os cinco pequenos livros, aqui contidos, foram entregues por intermedio de uma maravilhosa pessoa na RTP, posteriormente e como explicação/justificação, entreguei o texto de abertura deste blog ao jornalista Alberto Serra. Em Maio e devido ao premio Camões que Manuel Pina meritosamente ganhou, com toda a lógica fui imterrompido, aguardo agora o reatar do que já deveria estar feito. Sou essencialmente ansioso e depressivo, a vida voa, ainda ontem o negro que me cobriu de parecer que tinha perdido tudo, aconteceu e ainda aqui estou, dois anos e quase cinco meses depois. O vazio de tentar escrever extravazou numa gastroenterite de parecer que nada fica, do que tenho, do que sinto e no papel parece perdurar fora de mim. Estou no décimo sexto pequeno livro e texto a texto, de cada um, irei colocar uma amostra de momentos cristalinos e aparentemente sentidos.
No dia treze de Novembro, coloquei neste blog, com o titulo FRAGMENTOS, três pequenos textos que agora estão diferentes.

Estive a conversar sobre tendências
e a falta de isenção
que acompanha cada cabeça
nesta visão por fragmentos
única possível
para quem só vê o Sol
ou a sombra
a frente
ou as costas
e de cada fragmento tenta o juízo de um todo
que nunca viu por inteiro

na mesma hora os fragmentos todos
no momento inteiro.











  

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Fragmentos

Estive a conversar sobre tendências e a falta de isenção, que acompanha cada cabeça, nesta visão de fragmentos, única possível para quem só vê o Sol, ou a sombra, a frente, ou as costas e de cada fragmento tenta o juizo do todo.




A busca do real como um sonho que se esfuma, aos pedaços, lavados ou perdidos, acompanha cada leitura, da Tabacaria e todas são diferentes de a luz do momento nunca ser a mesma e nós sermos um amontoado de fragmentos que ajuntamos e desconhecemos, quase sempre, completamente. 



O caminho é feito de passos e cada um, por mais curto que seja, é uma unidade de um todo, que passo a passo se vai esquecendo mas permanece no ter havido, em cada passo torto ou direito, de o serem como
gotas que enchem um copo e depois vazam, 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Percursos

Disponivéis de 1986 actos necessários, a 2009 Negro Luminoso os primeiros cinco livros de poesia que eu escrevi.
Para efectuar download dos mesmos basta apenas clicar sobre o título.

Actos necessários

O encontro das diferenças

Sem pausas nem arrependimentos

Circulos que se estreitam, vastidão que se encerra

Negro luminoso

Poesia como acto necessário



Chamo-me Jorge Braga e desde muito novo que aprendi a escrever como quem brinca e deita fora. Tinha catorze anos quando abordei Pessoa, a serio, pela primeira vez e pelo desvio Campos. Nunca guardei, durante muito tempo, as porcarias que de mim saíam, tão fracas e sem préstimo pareciam, quando as comparava com o sol.
Entre os vinte e seis e os vinte e oito, comecei a guardar e a sentir, como pingos dispersos, alguma qualidade nos alívios, desabafos que o papel recolhia. Da primeira escolha de textos de 86, até à quarta de 09, o meu filho Luís nasceu, cresceu e como bipolar não declarado, matou-se.
Descobri de a sentir, de a viver, a parábola do filho pródigo, no que regressou dele e agora com a mãe e o irmão eu tento preservar. Tive-o morto nos braços, regressou a casa para não morrer no Hospital e agora dentro das limitações do que para sempre se quebrou, está cheio de saúde e o bem-estar dele é o nosso oficio diário, a nossa paz, a fé da mãe que por ele abdicou de tanto.
Em dois mil e nove, o meu quarto livro extravasou a depressão dos conflitos que ele nos trazia, depois só senti morte e saudades de todos os maus momentos anteriores e passei a escrever, como quem vomita tudo e nada, para de novo redescobrir o que ganhei ou até perdi por não ter feito o que ele fez, na hora de o ter feito e que eu supunha ultrapassada.
Quase como um diário, contido e conotado ao que vivo e aos meus, vou sujando as ideias com a pretensão de as ter, vou coleccionando textos, entre música e livros, moedas e selos, amarrado que estou e porque o quero, aos meus.     

Jorge Manuel Braga