Chamo-me Jorge Braga e desde muito novo que aprendi a escrever como quem brinca e deita fora. Tinha catorze anos quando abordei Pessoa, a serio, pela primeira vez e pelo desvio Campos. Nunca guardei, durante muito tempo, as porcarias que de mim saíam, tão fracas e sem préstimo pareciam, quando as comparava com o sol.
Entre os vinte e seis e os vinte e oito, comecei a guardar e a sentir, como pingos dispersos, alguma qualidade nos alívios, desabafos que o papel recolhia. Da primeira escolha de textos de 86, até à quarta de 09, o meu filho Luís nasceu, cresceu e como bipolar não declarado, matou-se.
Descobri de a sentir, de a viver, a parábola do filho pródigo, no que regressou dele e agora com a mãe e o irmão eu tento preservar. Tive-o morto nos braços, regressou a casa para não morrer no Hospital e agora dentro das limitações do que para sempre se quebrou, está cheio de saúde e o bem-estar dele é o nosso oficio diário, a nossa paz, a fé da mãe que por ele abdicou de tanto.
Em dois mil e nove, o meu quarto livro extravasou a depressão dos conflitos que ele nos trazia, depois só senti morte e saudades de todos os maus momentos anteriores e passei a escrever, como quem vomita tudo e nada, para de novo redescobrir o que ganhei ou até perdi por não ter feito o que ele fez, na hora de o ter feito e que eu supunha ultrapassada.
Quase como um diário, contido e conotado ao que vivo e aos meus, vou sujando as ideias com a pretensão de as ter, vou coleccionando textos, entre música e livros, moedas e selos, amarrado que estou e porque o quero, aos meus.
Jorge Manuel Braga