4
O respirar suave de estar vivo
o ritmo dele que parece ser o
nosso
em cada movimento, em cada afago
em cada caricia lenta que lhe
faço
de agora lhas fazer como se nunca
as tivesse feito.
5
Acumular as pequenas
e as grandes coisas
as importâncias
e a falta delas
e sentir o depender que se acumula
algumas vezes
como poeira dourada
outras como pó
simplesmente
que também cobre, também pinta
no que assenta de tempo que
passou
sentido
ou por sentir
nas dependências que se unem
e vão roubando o espaço
do que as une
sentindo ou não sentindo
mas unindo.
Prender o que se aprende
acumular e ficar dependente
de um sorriso que não volta mais.
6
A cada porta que parece abrir
uma nova dependência
como um vicio novo
colado à pele dos pensamentos
todos
como se ainda fizesse falta
mais um
para prender de uma forma que se
repete
mas é nova
nos anseios velhos
o tempo todo
o tempo que se prende em cada
frincha
de vida
e de morte
que só fecha para quem morre.
A cada porta que se abre.
Em cada porta um novo abismo
de escadas que sobem descendo
sempre
no patamar de um tempo
dependente
patamar a patamar
como se a soma deles
libertasse deles
a prisão das escadas
que sobem sempre descendo
sempre
ou talvez se mantenham quietas
e só eu me mova no sentido de as
perder
descendo delas em cada instante
a dependência que nas sensações
se enrola
como um vicio que dura
o tempo de estar vivo.
A cada porta que se abre
uma linha nova assinala novamente
o novo antes
e o novo depois
para que de uma linha se faça o
que sai
e o que entra
e o que não regressa.
7
De cada miudeza esmiuçar
o que a fez
o que dela se uniu
transpondo tempo e vontades
dando-lhe a grandeza
de permanecer.
De cada dedo sentir a mão toda
de cada olhar as visões guardadas
para que as trevas se possam
romper
na altura certa das certezas
pequeninas
que juntas permitem o respirar
de valer a pena.
8
Hoje senti de novo
a beleza das contradições
o valor de não estar certo
o incompleto que em tudo reside
de não haver mão que agarre
nem cabeça que abrace
o completo que em tudo reside.
Hoje parei em cada pássaro
o voo que tardava
e depois voaram
de um canto para outro
redondos e silenciosos
de os ouvir
como quem ouve silêncio
e dele retira
os sons todos
e os silêncios todos
e nada mais importa.
Hoje senti que finjo a vida que
tenho
e de tanto a fingir me agarro com
mais força
ao que traz, ao que traz e eu
agarro
arrastado por uma corrente
que desagua em cada esquina
de ainda não ser a minha
e é tão fresca
esta água que me enche
em cada instante
de não o sentir
para só a sentir
a ela
fresca e eterna
em cada momento.