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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

10 Luís.


20
Esmiuçar dos cêntimos
as sensações.
Tentar dos tostões
os sentimentos
perdidos da unidade
esfrangalhada
perdida
e
incapaz da harmonia
de encher e vazar
como maré que enche e depois leva
no recreio do que é inteiro
e por isso, só por isso
é pleno e sem perguntas
é único nas questões que nunca
nunca
são colocadas.


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

9 Analogias de tudo e de nada.


18
Tanto resmungar e tantas queixas
e não há nada que consiga ser o sonho
que de tudo todos tentam
mas nenhum consegue.

A única certeza
em todos pulsa
mesmo quando parece amargo
o sabor doce de estar vivo
e os dias se arrastam chorosos
numa noite escura, muito escura
e o ter sido um breve fogacho
pode parecer pouco
mas foi melhor que nada.

Foi.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

8 Precursos dos percursos.


38
Tento o equilíbrio de andar
sempre desequilibrado.

O que vejo e o que entendo
são do que quero
as parcelas que posso.

O prato da vida nunca esgota
as sensações
e as gotas que no copo ficam
eram as melhores e sobraram.

Marcantes se querem os momentos
que marcam o tempo sempre igual
para que não pareça que o é.

De negro e branco se revestem os encontros
de dor e prazer, de riso e de choro.

De abraços se fazem os passos
e os tropeções, de uma pressa inexistente,
resumem tudo
ao tempo que passa indiferente
arrumando imparcial
os que sentem e os que pensam sentir
no paraíso das sensações perdidas.



terça-feira, 26 de novembro de 2013

7 Elementos do espirito


7
Nos dias em que o barulho me permite paz
e por mim pensa, eu sou
de tentar, o vazio que se preenche.

Nos dias em que o barulho não me permite paz
e me bloqueia, eu também sou
de tentativas, o vazio que me enche.

Nos mesmos locais com as mesmas pessoas
eu não sei o que se fez
de tão diferente
para pior ou até para melhor
no que eu vejo de me rodear
no que eu sinto de me tentar sentir
no que eu penso de tentar
no que eu penso de nem isso.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

15 Medidas





13
O
uivar da lua cheia
não deixa adormecer
as sensações quietas
permanentes
nem a tempestade
dos olhos fechados
ou abertos
de estar vivo
como um eco.

domingo, 24 de novembro de 2013

Mário Sá Carneiro. Fernando Pessoa.

O ter morrido em Paris, envenenado pela solidão, permitiu a morte lenta, o suícídio assistido por Tabaco e Álcool, doutores de um pensamento excessivo e de um só Homem a escrita de mundos, a literatura do Mundo permitida na brevidade de uma vida que se fez eterna.
Em 2009 numa hora de unir palhas para que nenhuma se afogasse, entretive a cabeça com o texto que mais vezes li. Arranhei espelhos de água, vi e perdi estrelas no tentar de uma catedral chamada" Tabacaria" a noção de ser, de não ser, do sonho e do concreto.
Repito o que publiquei em 2011, num contexto diferente, depois de publicar" Actos Necessários" e de ouvir a Dª Adelia a ler o meu espelho da " Tabacaria". Entretenho momentos enquanto aguardo que seja publicado, o meu sublimar da vida, o perder que se espelha no tempo e no que se recupera. Entretanto aguardo que saia o" Negro Luminoso".



Quando as palavras escritas atingem níveis de beleza lúcida, de pensamento criativo, muito além do génio comum, ficam estanques, herméticas, vibrantes como correntes de música e som impossíveis de contornar, num tempo só delas que os afortunados que as podem, agradecidos bebem e agradecidos longamente tentam.
Leio a Tabacaria desde os quinze anos, não comecei Campos com ela mas, quando a descobri, sensações para as quais nem busco palavras, na vergonha de as sentir vãs e vazias, me inundaram num Mundo que sentia com sentido na falta dele, destruído e reconstruído estância a estância para que o sentido de tudo seja sempre o sentido de nada e o acaso tudo leva e tudo apaga na metafísica, que é uma “consequência de estar mal disposto”.
Tentei ao longo dos anos abranger, um pouco, sempre um pouco do que o tempo e o meu estado de espírito me permitiam das páginas sublimes de um texto que tenta o Universo para se firmar grandioso e tão vasto no monta e desmonta da Humanidade perdulária. Nunca o conseguirei mas hoje que as minhas esperanças voaram estéreis e vazias, hoje tudo eu posso tentar, não há derrota que me derrube, nem vitória que me possa elevar, do cansaço que se fez negro e buraco e buraco, negro.

Não ser nada mas do mundo ter as hipóteses todas. Olhar alheio e desconhecido e fútil para o mistério da vida e dos seres, que é real e certo como a morte que tudo leva para o nada.
Sentir da verdade a derrota, o estar desligado e por isso lúcido e, ao partir, de tudo sentir a explicação palpitante de já ser alheio. Sentir que tudo é sonho, sentir o que pensa como outra realidade e ficar dividido, entre o que é e o que parece, entre o achado e o perdido.
Tudo e nada, extremos que se tocam ao sabor das vontades, do acaso que parece tornar tudo tão igual, que até bloqueia o pensamento e o faz pensar em pensar. O acaso brinca com os seres e o que serão, são tantos para tão pouco e o sonho a todos alcança e todos pensam poder o que poucos, muito poucos, poderão.
Tudo se faz vasto e distante, o gozo do mais simples se perde, ao tentar explicar o que é para ser sentido e só assim se explica. Pensar e pensar, numa insatisfação que parece infinita, mas que vai guardando do impossível, a certeza amarga de um destino que sem lágrimas sente ser o seu e estóico aguarda.
Invocar as musas do passado e ter a noção delas, que no presente não tem, sentir ainda mais o hiato que se sente, despejado e por invocar. Ter da janela a visão do real nítido e absoluto, dos seres e das coisas, no peso que em tudo se faz alheio.
Ter feito o que todos fizeram e invejar todos só por não serem ele. Ser o que não quis e o tempo passou e acomodado já não pode mudar mas contudo mantém a lucidez de quem longamente pensou e não o fez em vão. Sabe o que é de sublime no que pensa e no que deixa cantar as palavras.
A essência e a música dos versos, de onde partem, aonde vão, inúteis mas com início, sempre defronte da Tabacaria de defronte, sempre desencontrados de quem os faz, no tropeção do que não vale nada e por isso calca a consciência de estar existindo.
E a realidade palpável de repente surge, tudo tem o seu tempo curto, por mais longo que pareça, tudo é tão curto, na hora de acabar, que tudo se faz tão breve, pedaço a pedaço, nas fileiras do tempo e do espaço. Tudo se sucede e as ruas e as gentes surgem e depois vão e o mistério permanece, lá no fundo tão certo como o sono que tudo permite, de inúteis, de impossíveis, de reais que se fazem o concreto, o mistério e tudo.
E de repente o concreto visível, as dúvidas que pouco valem, na realidade que cai e se faz certa de uma energia, que se ergue e no que diz se faz certa e humana, dizendo o contrário.
Num cigarro, no saborear do momento, na pausa em que se libertam os pensamentos e do que fica se ergue a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Fumar, enquanto o destino conceder e, se o destino o quisesse feliz, talvez o fosse, mas já agora da cadeira se levanta. Vai à janela.
 E o concreto visível de novo surge, mais as dúvidas que nada valem, mas agora identificado e sem metafísica, acena e tudo sorri, para que o universo se possa reconstruir de novo, sem ideais nem esperança.
O que fazer do que é belo, se só por inteiro o consegue ser. Da rosa sobram sempre as pétalas, que fora dela nada valem, de um texto como a TABACARIA sobra sempre a beleza das imagens que dão o sal e a pimenta de um tempero genial. Tento, do stress do engenheiro citadino, sentir as preces do ateu que acredita que não acredita e as volutas dos cigarros que a eternidade lhe reservou, enrolam-se nos meus sentidos embotados, incapazes de desmontar este edifício, de ruas e de gente, de concretos e palpáveis, do real e do impossível, que, genial, de uma cabeça brotou, como se fosse simples, esclarecer tudo para que tudo possa permanecer igual. Fazer o funeral da vida para que ela possa ressurgir mais forte, até no chocolate, nos marçanos e no capacho.
Estou agora a ler Caeiro e a sonhar não a morte mas a vida de tantos poetas num só, gostava de ser o menino que desce a encosta, o mistério de não haver mistério nenhum, o Deus que quis ser as pedras e as coisas e os rios, principalmente o pequeno rio de pouca gente da aldeia que desconheço. Mestre de uma paz que nada pede porque tudo aceita, como natural e bom, o concreto, o sentido das coisas é o sentido de elas serem o que são e não pensar em nada é o bastante.
Do Alberto torna-se impossível alcançar a paz da explicação de tudo, que não existe fora do que existe e por si se explica.
Do Álvaro torna-se insustentável a busca de tudo, numa busca de gigantes e de extremos, numa fuga impossível do real, que de si mesma se sustenta, canibal e incapaz de fugir ao circulo majestoso que se fecha nas estradas e caminhos que a nada levam mas tudo levam.
Da Pessoa que dizer, dos “delitros” às quadras ao gosto popular, do “sal de Portugal”, ao Reis que admiro, sem nele comungar, da mesma devoção quase divina de um crente que sabe ser descrente até ao mais intimo da sua crença e contudo ama a vida como a um deus e tudo quer saber, com a permanente noção de que nunca saberá nada, além da “metafísica de não pensar em nada”, ”consequência de estar mal disposto”.
Transeunte de tudo, até da própria alma, mangas-de-alpaca mesmo sem elas, o que dizer do discreto Bernardo, invisível de estar lá, vestido das vivências que o não deixam ficar nu e capaz do Universo na rua dos Douradores, mais o enigma de viver.
O que me vai na alma, na alma vai e comigo vai, cansado e sempre incapaz de sentir do percurso os passos que dei, nos que não dei.


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Lançamento de "Negro Luminoso ".

De 2008 e 2009.
O meu segundo livro de poesia, vai ser apresentado no dia 13 de Dezembro pelas 18 horas na Biblioteca Municipal de Matosinhos "Florbela Espanca".
A Edita-me aceitou publicar o pouco antes e o depois do meu filho mais velho, bipolar que viu tudo tão negro, que quis partir. O que dele regressou, ilumina ainda agora, os momentos perdidos e reencontrados, o que não volta e o que há.
Jorge Manuel Domingues Gouveia Braga

Amanhecer.

Amanhecer os dias todos
tardios pequenos
de serem bons todos
no sossego das coisas pequenas
amontoadas sem atrito.

A frescura do fundo amanhece nos sorrisos todos
de nem os ver.

A frescura no fundo amanhece no riso todo
de nem o haver.

A frescura como fundo de amanhecer presente
desembrulhado em cada fita
que amarra o que desenrola.

Amanhecer o presente dos momentos todos
ainda e sempre
enrolados momentos, rolados segundos
guardados.

O amanhecer dos dias todos
de os sentir entardecer
proveitosos amanhecidos.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

16 Cristal.



6
As importâncias perdem-se
num instante
voam
na importância que tiveram
e depois parece que nunca
a houve
como se…
um hiato de sentimentos
arrastasse passos gagos
no quebrar do que era transparente
e opaco
se fez
em cada folha que tombou transparente
no erguer da resma
opaca.

sábado, 16 de novembro de 2013

O vaguear da disposição.

Agarrar nuances
gostos de não deixar marcas.

Spleen dos de hoje sem absinto
e sentir ou entender
dos momentos o falecer de cada um
e guardar as cores
na caixa de guardar nada.

Harmonia dos sons e das cores
antes, antes de os haver
antes de haver
momentos desenrolados
e silêncio de não haver, de não ouvir.

Miudezas em cada cor que o tempo impôs

e depois ficam como vagas paisagens, exposições de sons, ecos de imagens permanentes.

A cor dos momentos
o amanhecer de todos, o entardecer de todos.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

15 Medidas.

11
Hoje o Vítor passou o dia comigo
a trabalhar
e todo o dia trabalharam comigo as saudades
do irmão
enquanto oolhava os dois num só
e sentia um orgulho desmedido
de ser de ambos o pai.

Morrão aceso.





A pressão das anedotas contadas
para que não haja
o silêncio de pensar
devagar
no que é e de novo é
não se repetindo nunca
não se rindo nunca
das anedotas guardadas silenciosas
em cada correr de tempo
lento caído.
Morrido?

sábado, 9 de novembro de 2013

8 Precursos dos percursos.


51
Pouco se capta
quase nada se apanha
pouco
muito pouco se agarra
do que surge
para que possa ficar sempre
a sensação
do que não foi pensado
do que não ocorreu
e agora berra mudo
os berros vivos que não deu.

Hiatos de sentimentos
metas que sobram de nunca serem transpostas
buracos que ficam no que parecia resguardado.

Nada se guarda do que passa
tudo é válido porque tudo acaba
e o caminho é caminhar
enquanto dura o caminho.


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

7 Elementos do Espirito.

25
Viver como quem caminha
numa linha recta,
que para ser consciente
logo fica repleta,
de desvios e atalhos
capuchinhos e lobos maus
estrelas e cadentes,
roubos e presentes
sonhos quentes
e pesadelos permanentes.

Calcadas as flores,
no funeral dos que ficam
alheios e alheados do que são
e do que fica
e mesmo assim……. permanecem
na linha recta que inconscientes
permitem
repleta de desvios e atalhos
que por eles sonham
a vida que vivem
e a morte
que por eles também vive.

Segundo a segundo
no compasso de cada um
no orgasmo retardado
de cada um.




quinta-feira, 7 de novembro de 2013

9 Analogias de tudo e de nada.

5
Já consigo nadar
debaixo de água
mais um pouco
e habituo-me,
para poder afogar
pouco a pouco
o que incomoda,
o que dói
o que passou
e o que desconheço.

Para que possam
pouco a pouco
ir embora.

Numa pressa,
prolongada,
sem pressa
no ajuntar de tudo
e depois adeus.

E de tudo se faz sempre
nada.



terça-feira, 5 de novembro de 2013

14 Dependências

7
De cada miudeza esmiuçar
o que a fez
o que dela se uniu
transpondo tempo e vontades
dando-lhe a grandeza
de permanecer.

De cada dedo sentir a mão toda
de cada olhar as visões guardadas
para que as trevas se possam romper
na altura certa das certezas pequeninas
que juntas permitem o respirar
de valer a pena.

domingo, 3 de novembro de 2013

Antes do que vem depois.

O que morre não sente mais
deixa de sentir simplesmente.

O que fica é o que sente
o que enche constante
a cabeça do bom
e do mau que persiste
nos que ficam
agarrados por tão pouco
aos que deixam.

O que vive é o que morre...

Enredo de fios
finos
que se fazem cordas
grossas.

Teias que se fazem redes
de pescar sentidos, de os perder constantes
de os ter
para os poder perder
e de novo ter como horas que rolam marcas
como copos que vazam para encher
antes do estilhaçar
antes, sempre antes.
Antes sempre
do que vem depois
sempre.