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Viver um dia de cada vez
como se os dias fossem unidades estanques
aglutinando sentimentos
em cada pedaço, em cada dia
em cada devaneio, em cada peça
que se faz um dia, a seguir a outro
e antes do que se segue
numa construção, o mais linear possível
para que as peças se ergam
parecendo só uma
no tapar do sol
no alongar da sombra
de um dia e mais outro e logo a seguir
ainda outro
num recreio, de os haver
ainda.
As recordações são do que passa, os temperos todos, o proveito nem sempre doce mas guardado no recanto dele, no proveito de as sentir ainda, um dia de cada vez. O ter a cabeça repleta de morte é viver ainda e não ter palavras que me permitam sentir o que sou, neste findar de ano, neste findar do ano em que morreu a minha mãe.