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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

16 Cristal


18

Viver um dia de cada vez

como se os dias fossem unidades estanques

aglutinando sentimentos

em cada pedaço, em cada dia

em cada devaneio, em cada peça

que se faz um dia, a seguir a outro

e antes do que se segue

numa construção, o mais linear possível

para que as peças se ergam

parecendo só uma

no tapar do sol

no alongar da sombra

de um dia e mais outro e logo a seguir

ainda outro

num recreio, de os haver

ainda.
 
 
 
As recordações são do que passa, os temperos todos, o proveito nem sempre doce mas guardado no recanto dele, no proveito de as sentir ainda, um dia de cada vez. O ter a cabeça repleta  de morte é viver ainda e não ter palavras que me permitam sentir o que sou, neste findar de ano, neste findar do ano em que morreu a minha mãe.
 
 

domingo, 29 de dezembro de 2013

15 MEDIDAS.



32
É a mexer nas coisas
que lhes sinto a forma
e o lugar delas
o que as liga
de estarem encerradas
no mesmo canto
no mesmo vazio
repleto
de malas velhas
que o tempo preservou
tão importantes
de o serem
para quem as guardou.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O tempo leva.

De Natal a Natal um ano passa e a cabeça confusa, mistura intenções que o ano nunca lava.
Publiquei dois livros este ano, mantive os pratos da balança oscilantes, alguns pararam, a minha mãe, o Toninho, a Aninhas e tantos outros que por mim rasparam, deixando um pouco deles comigo. Primaveras ditadas que não acabam, entre mortos e ditadores, crise de estar, crise de ser, crise no Mundo todo e Mandela morreu e Reed também e as ideias e os sons permanecem mutantes, agrilhoados aos inícios que mudam vastos, ao tempo, ao vento e ao que calha.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

14 Dependências



6
A cada porta que parece abrir

uma nova dependência
como um vicio novo
colado à pele dos pensamentos todos
como se ainda fizesse falta
mais um
para prender de uma forma que se repete
mas é nova
nos anseios velhos
o tempo todo
o tempo que se prende em cada frincha
de vida
e de morte
que só fecha para quem morre.

A cada porta que se abre.

Em cada porta um novo abismo
de escadas que sobem descendo sempre
no patamar de um tempo
dependente
patamar a patamar
como se a soma deles
libertasse deles
a prisão das escadas
que sobem sempre descendo
sempre

ou talvez se mantenham quietas

e só eu me mova no sentido de as perder
descendo delas em cada instante
a dependência que nas sensações
se enrola
como um vicio que dura
o tempo de estar vivo.

A cada porta que se abre
uma linha nova assinala novamente
o novo antes
e o novo depois
para que de uma linha se faça o que sai
e o que entra
e o que não regressa.


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Negro Luminoso.

A 13 de Dezembro de 2013


Apresentei ou foi lançado pela Edita-me
ao tempo
o sentir acumulado no" Negro Luminoso".

Deixam de ser meus
estes momentos
acumulados
que marcam no livro da vida
parcelas de ter havido
marcadores entre páginas de gente
relidos e largados com vida
ao encontro dela
de quem possa sentir
e entender
se possível.

Na Biblioteca " Florbela Espanca" entre Poesia e gente conhecida, despedi, deixaram de ser meus, os
textos que cresceram página a página, formando juntos o marcador"Negro Luminoso".
A leitura pelo Dº José Custódio Almeida da Silva, do texto que elaborou e ao qual chamou "Apresentação" foi um momento mágico, uma analise profunda e sentida, que o autor e o pequeno livro lhe agradeceram.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

VerTer.


A luz de dentro cega a de fora
a de ver tudo e não ver nada.

O escuro de ser
permite ver tudo
o que muda e o que persiste
no acordar e no dormir acordado
enumerando migalhas
do pão já comido.

A luz de dentro cega a de fora
a de ver tudo e não ver nada.

Areia que o vento espalha
de nem a ver
de haver ainda
pedaços por desfazer
e valer a pena.

A luz de dentro cega a de fora
a de ver tudo e não ver nada.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Mudanças.


Quando algo não está bem
muda-se
quando não se pode mudar
aguenta-se.

Pausas de refazer para que de novo se faça
o correr dos segundos
como fitas de obras que se prolongam
ao tempo
ao Sol, à chuva
e acabam
e recomeçam na lama
na poeira
dos instantes sempre curtos
sempre bons
de morrerem ainda
um a um
ainda e bons.




sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

13 Pontos de Vista.



13
Se um dia tudo parece correr
e no outro só passa
no arrastar lento dos remos que repousam
como lemes de uma deriva só deles
ainda assim há rumos que ficam traçados
como pontos que se preenchem
de ponto a ponto
no sentido sempre certo
da necessidade e do esforço
e do tempo abençoado
de o haver ainda.

12 A B C.



38
O farelo do serrote
já não é madeira.

O afago suave de todos os dias
é do amor a manutenção
o preservar do que ainda há
e o tempo consolidou.

Nas âncoras da dor e do prazer
mais na primeira, muito mais
se amarram afectos
criam-se sentimentos duradouros
de chamuscados e enrijecidos.

O farelo do serrote
já não é madeira
mas foi.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

11 Papel Branco.



22
É nos patamares que me são permitidos
nos limites dos pulmões
e das pernas
que eu paro e a cabeça voa
na busca do que não há
para que haja
no pensamento que se desliga
o ligar de um caminho
que só de o pensar se concretiza
numa procura sem fim
que se satisfaz de o ser
no meio de tudo
na procura de nada
na procura só
de nada.

domingo, 1 de dezembro de 2013

As cores dispostas.

Hoje vejo pessoas
e as cores
como cubos de Rubyk
faces de uma só cor
e das cores todas
misturadas.

O sentido da cor dilui-se
alonga-se e encurta nas cores dispostas no tempo
no brilho que as perde
no brilho que recupera
a parte que se ganha, na parte que se perde
em cada cor, em cada olhar.

As cores mudam em cada olhar
de nunca serem as mesmas
dispostas em cada olhar
em cada rodar de um cubo multifacetado
de ter as cores todas
dispostas e indispostas
em cada olhar, em cada cegueira
de olhar sempre o lado
dentro
o lado fora
do espelho das coisas todas.

Rodam as cores de cada olhar
e são sempre certos
os momentos e as cores
que rodam sempre certos.