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domingo, 29 de julho de 2012

Marcas

No madeiro de Robinson ficaram as marcas do tempo, nos traços de dias, de semanas e anos, numa ilha, nem sempre deserta. No deserto da cabeça, resguardam-se as marcas do que foi mais fundo, o resto parece areia, Sol e chuva e vento, erosão de cores em cada ilusão, atenuar das marcas de cada desilusão.


8 Precursos dos percursos


9
Das pedras desfeitas
ao tempo e com tempo
sobeja esta areia
que de tanto bater com a cabeça cheia
me enche agora a cabeça
de pedras ou de areia
de areia ou de pedras.
Já nem sei, a memória encurtou
e a cabeça que pede descanso
dele foge sem saber para onde vai
enquanto vai
enquanto vai
vai.

sábado, 28 de julho de 2012

O passar da corrente

Existir é um vazio, que se preenche existindo e são tantos os nomes, do que me enche, como são os copos e canecas de encher, de existir.
Quentes ou frios, de manhã à tarde e à noite.
Preencher espaços, vazios que estilhaçam copos e canecas, de sentir e continuar, a linha que se prolonga, de um inicio, ponto a ponto prolongada, no frio e no quente, no amargo e no doce.
Correntes que prendem as mãos e as venturas, necessárias sempre, fundamentais no recordar de tudo, como quem pesa e mede e conserva o vazio, de o sentir todo em tudo, de sentir nada em tudo e assim se assiste, existe como nomes soltos, vivos, noções encarceradas, riscos infinitos no estreitar de uma folha branca, no vazar doce do vazio que me enche o copo.
Palavras como gotas de sede, avançam ou recuam? Enchem ou vazam? A sede de as ter, de as perder ou a sede de a perder?
Um novo dia, uma nova fantasia, ocupa o espaço sempre nu, de um circulo que se encerra, olhando fora e dentro a linha tremida, que teima o fim no inicio que recomeça.
Pensar sem palavras, soltar palavras sem pensar, unir fios tão diferentes, desamarrar enredos no vazar e no encher dos dias corridos, dos sentimentos que mudam, gaguejando tolices tão importantes que o tempo passou, secando ou molhando vontades, perdidas e logo recuperadas, em cada olhar de já o ter tido, neste desenrolar da corrente que se afunda, fundeando espaços em cada âncora que no fundo
estremece.


14 Dependências

3
Resmas e resmas
de pensamentos brancos
se derramam na magia do sono
como cobertas
na magia do despertar
como pássaros e sol
de nenhum lado
para poderem
de todos
ser a luz branca
que ilumina as sombras todas
de todos os lados.

domingo, 22 de julho de 2012

Breyvik e o entender, que não entendo.

Pensamentos negros como cortinas cerradas, brancas, acumuladas de uma luz que roubam, negra de um roubo que nem se sente, acumulado, como toneladas feitas de gramas, que se varrem leves e pesam prolongadas pelos cantos.
Pensamentos negros de o serem, só, negros e viverem como orações, repetidas no rasgar de cortinas, de serem velhas, só no rasgar, no sentir que as faz o que não eram,ainda.
Poeiras que se acumulam, murmúrios que estilhaçam janelas, de ver e de ouvir, razões de as haver sempre, poeiras que se acumulam.
Trovejam negros raios, traços faiscantes de ser sempre negro o início e o que finda, numa razão que estrebucha os fins todos nos inicios todos, negra de não ser branca como poderia ser branca de não ser simplesmente negra.
O que nasce vive, cai e vive, decai e ainda vive no ribombar longinquo, das razões todas, cerradas e encerradas em cada queda.
Breyvik um ano de chacina e a defesa dos direitos dele, é a defesa dos direitos de todos, dos que repudiam e dos que o aceitam.
Matar é matar, morrer é sempre morrer e no País das liberdades todas, das oportunidades todas, um novo arsenal, legal e individual matou ilegalmente, numa guerra de um mundo todo, com o Mundo, pelos cantos todos.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

De nada se faz tudo

Escrevo mais quando esfrego uma vassoura, passeando escadas entre manchas e riscos repetidos, melhorando de cada mancha, de cada risco, que persistem, o local, o sitio de cada um, arredados do restolho de todos os dias.

Fumos que nunca se agarram, cores que nem o tempo esbate e depois uma brisa leve como portas abertas a tudo leva, tudo leva já fumado e já sem cor.

Pausas de um tempo, de o haver todo, sentindo, não sentindo todo, o tempo curto de cada paragem, diluído e longo no escorrer dos dedos que se abrem e fecham, como ponteiros que rodam, a paragem de cada instante, o recomeço de cada nada, no erguer de tudo, o tempo todo.

Sentir os sentidos que sopram pequenas chamas, velas que se apagam, no escorrer dos instantes, no correr dos momentos e das pausas e dos sem elas, encerados e apagados.

sábado, 7 de julho de 2012

Obrigado Joalsilva.

Flutuam os pensamentos, na terra que lhes permite correr, um pouco acima da poeira que os envolve, nublando preconceitos, ideias e caminhos, velhos de poeiras novas, novos de poeiras velhas. Flutuam amargos, madeiros como jangadas de transpor, sentidos e caminhos, poeiras que se vão e ainda regressam, ainda mais firmes, como dormir para regressar e sentir sempre a coerência de estar vivo, no estar.
Uma medalha nova, o quebrar do tempo em cada comentário e depois partir de novo, na descoberta do visível, de ser visto por fora e ter o dentro, as costuras que não explicam e o que sobra enrolado, desenrolado por espaços e poeiras, tocadas no silêncio de serem sempre diferentes, as costuras desenroladas como orações repetidas, de nunca o serem.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Comentários do que há e não há.

Portugal no Europeu e a sensação de poder mais, ou de ser pouco este estrebuchar de palavras, das palavras que atropelam o vazio de pensar, desfeito, abstracto, liquefeito no deformar de imagens inexistentes. Soft ou hard, de sonhos, de janelas que se deitam fora, em cada virar de esquina, em cada esquerda, em cada direita, em cada finta conseguida, na falta dela?
O tempo sobra sempre, para pensar, que se pensa e os universos todos esvaziam tudo no debater de cada condenado, de o ser, de o sermos todos, o instante de um assobio, de uma falta, de uma paragem de para sempre, enquanto tudo segue, sem paragem, arredondando arestas em cada pontapé do tempo, em cada pensamento redondo de um tempo que, já, não lhe pertence.

Três anos feitos hoje, de o encontrar, de o ter ainda, de sentir que vivo ou de viver para sentir que o faço ainda, nuances como pêlos caídos ou unhas cortadas, importâncias de nada que dão valor a tudo.
Há e não há, sensação por sensação, momento de serem todos presentes, um a um os momentos, como presentes, saudades do mais novo ausente, do mais velho, do meu filho presente.

No fim da página o"  sem comentários" parece tão negativo e tão vasto, preferia o " 0 comentários" que parecia delimitar o vazio, num circulo que o guardava e de vez em quando partia.