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quarta-feira, 2 de junho de 2021

divagar devagar

Espremi os segundos, tentando de cada um a Poesia

nele encerrada

de um sonho fiz nuvens que por ele voaram

e tentei de cada um e de cada uma

o inato descanso de sentir a Poesia de cada instante transcendente


encontrei para os poder perder

nas noites de insónia fervilhante

de as ter para as poder perder

os segundos todos 

e que mais houvesse 

de abraçar mundos, lentos bocejos de ter a ventura encerrada

nas nuvens que passam como cometas comendo tempo e espaço


A Poesia de cada instante em cada instante

o salgado sabor de um oceano que se guarda numa minúscula garrafa

o de sol a sol sentir os elos de uma corrente

que se alonga sem pressa

contando o infinito ao anoitecer


A Poesia silenciosa desta poeira do universo feita

esta sacudida ordem 

para desordenar

esta arrumação de a ter sem a sentir

em cada circulo de cada momento que nunca se encerra


a Poesia de um riacho que corre transparente

ganhando a cor de um caminho pelas gotas unido

como passos lentos, prolongados na distância de correr


a cor do tempo que passa, alonga rugas e cansaço

e nada se aprende, mas tudo nos prende a esta ventura de ainda

cá estar


conhecer o infinito como oceano de o perder em cada gota

conhecer noções de as ter sempre perdidas

nas novas sempre à frente, 

neste encontro dos desencontros


do branco para o branco, espalhando cores como autopsias das sensações

criando laços como amarras de as desamarrar

dando cor ao tempo que não tem cor nenhuma

riscando a brancura com a vertigem de ter sido

e seguindo passo a passo o caminho sempre errado que no fim está sempre certo


vomitar o alivio de soltar o desconhecido depressivo

quiçá comprimido inexistente tormento

de o ter dentro desconhecido


de que é feita a sensação, a palavra ou a luz de anoitecer labirintos

a cor ou a forma que nenhum espelho guarda

desliza sem pressa pelas cores sempre novas, que ninguém guarda

cores e palavras que nunca se repetem, nas...nas...cores das palavras que nunca se repetem


nada se repete, nem  o coração que bate, nem a cabeça que sonha e pensa


escrevo na cor de ser sentido noutras cores e noutra luz


magia da Poesia que rompe silêncio com silêncios novos

que repete constante o que nunca se repete e permite este arrumar de ideias

para que fiquem mais desarrumadas, como fragmentos de jangadas aflorando ideias

linhas de as unir e percorrer distâncias, linhas de unir amantes da Poesia de sentir

o amor pelas palavras, encruzilhadas sempre diferentes e de cores sempre novas

como sonhos que se afagam e nunca se amarram