Espremi os segundos, tentando de cada um a Poesia
nele encerrada
de um sonho fiz nuvens que por ele voaram
e tentei de cada um e de cada uma
o inato descanso de sentir a Poesia de cada instante transcendente
encontrei para os poder perder
nas noites de insónia fervilhante
de as ter para as poder perder
os segundos todos
e que mais houvesse
de abraçar mundos, lentos bocejos de ter a ventura encerrada
nas nuvens que passam como cometas comendo tempo e espaço
A Poesia de cada instante em cada instante
o salgado sabor de um oceano que se guarda numa minúscula garrafa
o de sol a sol sentir os elos de uma corrente
que se alonga sem pressa
contando o infinito ao anoitecer
A Poesia silenciosa desta poeira do universo feita
esta sacudida ordem
para desordenar
esta arrumação de a ter sem a sentir
em cada circulo de cada momento que nunca se encerra
a Poesia de um riacho que corre transparente
ganhando a cor de um caminho pelas gotas unido
como passos lentos, prolongados na distância de correr
a cor do tempo que passa, alonga rugas e cansaço
e nada se aprende, mas tudo nos prende a esta ventura de ainda
cá estar
conhecer o infinito como oceano de o perder em cada gota
conhecer noções de as ter sempre perdidas
nas novas sempre à frente,
neste encontro dos desencontros
do branco para o branco, espalhando cores como autopsias das sensações
criando laços como amarras de as desamarrar
dando cor ao tempo que não tem cor nenhuma
riscando a brancura com a vertigem de ter sido
e seguindo passo a passo o caminho sempre errado que no fim está sempre certo
vomitar o alivio de soltar o desconhecido depressivo
quiçá comprimido inexistente tormento
de o ter dentro desconhecido
de que é feita a sensação, a palavra ou a luz de anoitecer labirintos
a cor ou a forma que nenhum espelho guarda
desliza sem pressa pelas cores sempre novas, que ninguém guarda
cores e palavras que nunca se repetem, nas...nas...cores das palavras que nunca se repetem
nada se repete, nem o coração que bate, nem a cabeça que sonha e pensa
escrevo na cor de ser sentido noutras cores e noutra luz
magia da Poesia que rompe silêncio com silêncios novos
que repete constante o que nunca se repete e permite este arrumar de ideias
para que fiquem mais desarrumadas, como fragmentos de jangadas aflorando ideias
linhas de as unir e percorrer distâncias, linhas de unir amantes da Poesia de sentir
o amor pelas palavras, encruzilhadas sempre diferentes e de cores sempre novas
como sonhos que se afagam e nunca se amarram