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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Acabar

Invernos como infernos que se acabam, de tudo se acabar.
Primaveras sucessivas, ressuscitadas, molhadas ou secas, ano após ano, miudezas que se acumulam, grandes como dias estacionados, insensatos e sensatos e o tempo passa, os passos diluem-se direitos, pequenos, no aguardar do melhor, do mais perfeito, no há-de vir, no acabar de ainda haver um recomeço por ceifar ainda, quente, quente de olhar e não ver dos dias que passam, o perfeito de cada um, passados um a um como presentes constantes.
Unidades de tempo, referências permanentes, vagas, vazios de encher e de vazar, miudezas que o são, sempre, e não parecem.

O centro do mundo numa Tabacaria, certo e desfeito, certo e refeito, desfasado de nada ser certo, num tempo que arredonda os idos e os vindos e tudo é tão real como ser e não ser.
Universos paralelos de razões, certas, certezas racionais flutuando num universo incerto, paralelo, como se a luz acabasse em cada espelho, que se lava de uma sujidade que o tempo lava sempre.
O que dói, quase o esqueço nesta busca baldada, do lado que mais quero, do lado certo, do real que já tenho, engolido a seco, de o ser por pouco tempo, de ser o que encontro e o que perco sem pena, de já ter nascido depenado.
Quantos são os graus da bebedeira de estar vivo? Quantas voltas se ganham para entontecer, a tontura de nascer?
A Tabacaria como centro, referência que permite o regresso, das viagens por tudo e por nada. Musas e carroças que todos podem e o Esteves certo e real, no fim de uma volta que se retoma, de ser sempre nova, a volta.
Escrever para sentir, ou sentir para escrever. As coisas não param e as sensações contam sempre, as primeiras quase sempre, como definitivas, depois vem o sumo de pensar, de tentar, de repetir, o arrastado sentir de cardumes vazios e as volutas de fumo preenchem espaços, tonteiras e devaneios de estar por aqui, ainda, no sitio de não haver outro e o coração compra, os momentos todos e aguenta.
Das pedras de Guimarães, à menina que centrou a Tabacaria, tanto, no seu centro, que segundos, que pedaços, que miudezas se perdem, em cada ganho de tentar entender, de cada segundo, o que se respira e não se entende?
Klee vive ainda, ou sempre, nos borrões mais feios, nas aguarelas escorridas, no sonho de entender o sonho, sempre, quando o sonho, escorrido, prolongado no ser de todos o borrão de ninguém, que todos podem sentir................................................................................  

sábado, 26 de maio de 2012

Paredes de Guimarães

Paredes sem telhado, lembranças de calores idos, erguidas como lápides de um tempo mais morto, que os mortos desse tempo, glorias de fogachos, nas marcas incrustadas nas muralhas ainda erguidas. Berço de embalo nenhum, Portugal dali começou, inchou grandioso, encolheu democratico e livre, de poder gastar tudo hoje e pagar no amanhã, que vem sempre longe.
As casas de outrora, que rodeavam as muralhas, são agora jardins desfeitos e refeitos, sempre fora do prazo.


8 Precursos dos percursos

2
Foi como ter nascido colado a um edifício
e durante muito tempo
o Mundo foi a visão daquela pedra
que arranhava, lavrada num pico grosso
velha de muitas intempéries
e de tantas cores brilhantes
formadas rente aos olhos
como visão única.

O tempo e a consciência
foram descolando as visões
e devagar, muito devagar
permitiram a distância
e as pedras foram-se multiplicando
.
De inicio ainda as sentia distintas
mas pouco depois
já só pareciam
pedras iguais.

A visão da primeira parede foi maravilhosa
e criou a urgente necessidade das outras
que longamente foram apreciadas
na lentidão de um longo trajecto
na distância segura das visões
que pareciam certas
e rodeavam o centro
que parecia certo mas distante
na distância certa.

Depois veio o cansaço
e a vontade de pertencer.

Tentei encurtar a distância que se alongava
e encontrei portas,
muitas portas nas paredes todas
e das que não tinham a minha medida
às que estavam fora do tempo de as ter tido
nenhuma me servia e eu continuei andando
naquele vazio de andar em circulo
num desgaste de pedras interiores
incapaz até de encontrar a primeira visão
perdida
no sucessivo acumular
de pedras iguais.













segunda-feira, 21 de maio de 2012

Marcantes

As datas nas moedas que arrumo, velhas ou novas, velhas de estarem novas, sem uso, ressuscitam mortos, mesmo as novas de estarem velhas, mortos que a lupa parece ver, antes de ver e depois desfilam consentidos, neste entreter de moedas, coleccionando momentos, que se arrumam entretidos e lentos, de parecerem repetidos em cada retorno, datado, no seu circulo.
Foi antes de ou depois de, no acaso ou no momento que se prolonga ou fechou, como se fosse possível haver círculos estanques, nesta espiral que se ri, do que sobe, do que desce, do que pára estonteado, desta droga viciante, de estar vivo e recordar, ter lembranças como espinhos, cromos que parecem faltar sempre, de os ter, já, de nunca os ter.
Arrumar o que na cabeça parece livre, de circular de ponto a ponto, encerrado num vicio arrumado.



9 Analogias de tudo e de nada.

8
Procuro entender
o que não é
para entender
e cada vez entendo
com mais lucidez
o que não entendo
porque há razões
que funcionam sem razão
e há lógicas que se impõem
de nunca a terem tido
e no concreto palpável
irrompem
repletas de razão
trasbordantes de lógica
irrefutáveis e concretas.

Tex do que magoa e não se explica
Leiria do que dói
e connosco fica
Allen do que vai e tudo complica

tudo se aninha no centro
dos sentidos perdidos
perdido
sem senso no sentido
de nunca o ter tido.


















quinta-feira, 17 de maio de 2012

Ver

Acredito no que vejo, de olhos fechados, recriando horizontes como ondas, alargando pequenos pontos, sentidos e significados que a lucidez de olhar, nem sempre permite, do que é pequeno a verdade de ser grande e acabar. De olhos fechados, rebobinando filmes, vendo imagens, tão perto e tão longe do pensamento, do passeio de estar quieto.
A frescura de estar cansado, enquanto ouço o "Adagio cantabile" da sonata " Patética" pela terceira vez, paro como paro constantemente, deslumbrado e lento de sentir o perfeito, o infinito já criados por momentos, nos meus sentidos que se alargam e procuram, na frescura de estar cansado, o esteio que me agarra ainda e sempre, a este cansaço que por momentos, constantes e lentos quase agarram, a perfeição de cada momento.
Palavras de haver sempre, de não as ver, num sentir que se faz gago, magro de tanta abundância. De um Mundo inteiro, fresco, se faz o cansaço de recomeçar, os dias todos, um por um, de todos serem únicos.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

gostei de os reler

7 Elementos do Espirito

7
Nos dias em que o barulho me permite paz
e por mim pensa, eu sou
de tentar, o vazio que se preenche.

Nos dias em que o barulho não me permite paz
e me bloqueia, eu também sou
de tentativas, o vazio que me enche.

Nos mesmos locais com as mesmas pessoas
eu não sei o que se fez
de tão diferente
para pior ou até para melhor
no que eu vejo de me rodear
no que eu sinto de me tentar sentir
no que eu penso de tentar
no que eu penso de nem isso.




11
O tempo passa num passatempo
que nem sempre passa,
retardado nos escolhos
de nenhuma escolha,
afundado
na lentidão do que mais custa
mas passa.

O tempo passa
afogado nas sensações que voaram
incapazes de serem retidas
fora do tempo delas
delas,
rendidas ao que as pode
e logo as solta perdidas.






sábado, 12 de maio de 2012

Não há palavras.


Somente as  necessárias, as de  cada ser vivo, repetidas e constantes, de serem sempre as mesmas, diferentes, dos segundos sempre diferentes, como contas de escorrer, transbordar o tempo todo, pela vida toda. Somente as necessárias, infinitas, de não haver gotas iguais, de ter nas mãos escorrendo constantes, praias de areia sempre diferente, grão a grão, partícula a partícula, de serem inícios sem fim, universos em cada canto e eu num curto espaço, num recanto de palavras que sonham, o tempo de as ter emprestadas.
Salonen, Richard Strauss e a " Metamorfose" que ouço repetitivamente nos últimos dias, sempre como se fosse a primeira vez, sonho as palavras que nela se guardam e como todas não entendo, do tempo e dos sons o serem sempre diferentes, as palavras e as vidas, palavras vivas, que o tempo acaba recomeçadas.
Coerência de sentir o fio que une os trapos, do tempo, da cabeça e de pensar, nem sempre bem e ter que dar nome, ao que vagueia pelas estrelas, de as querer a todas na cabeça, de olhos fechados, num encontro constante, de praias perdidas, nas mãos abertas escorridas.


6 MOMENTOS

26
Sempre na areia tentei escavar
na busca do que não sei
de areia que parece sempre igual.

Molhada por vezes
ao sol seca
e parece depois
ainda mais igual 
enquanto seca, resvala para o buraco
que nunca mais acaba de se tentar.

Constante desaba
parando de vez em quando
por momentos curtos que escorregam
enquanto tento na forma e textura
por momentos
encontrar a novidade
que não surge
na igualdade dos grãos
sempre iguais, sempre iguais
na igualdade que nunca os repete.

Nenhum é igual mas todos o são
no que eu tento de buraco que escorrega
e nunca se afunda
nunca se ergue fundo
incapaz da firmeza
enquanto escorrega
persistente e constante no que é
de buraco que não se afunda.


sexta-feira, 11 de maio de 2012

1000 Portugueses

Um número redondo ,que foi crescendo, nestes últimos meses, de leitores ou curiosos deste blogue.
Vazio porque se enche, cheio porque recolhe faíscas e só guarda delas, momentos,inspirações ou batimentos de estar vivo, como vazios de entretanto, como luzes visíveis de se fundirem, na visão e na falta que as apaga.

Conhecimentos como água límpida, que se bebe, que parece saciar e o faz, de parecer, de ser.
Depois há gotas que turvam, o que se conhece, o que acontece e nada parece do que parecia persistir.

Medidas que se unem, desiguais, como de uma corrente pedaços, que se colam justapostos, prolongados de haver memória e sentir que dela ressalta, uma corrente aos pedaços, que se colam, que se desenrolam sempre, de ainda o fazerem, neste conhecimento, supremo, de desconhecer sempre, dos desenrolados, os que rolam, os de ontem, os de hoje no acordar de madrugada, no sono cansado de não conseguir dormir.
Medidas de tempo, que se unem no tempo, valores que trespassam vidas e persistem nos Sasssetis que morrem e nos, que              os persistem, sobreviventes de poderem ouvir, ainda, a " Metamorfose" que ouço como respiro, de o fazer mais vezes, para poder ouvir mais vezes, os sons de estar vivo, estes e outros e são tantos, vivos de estarem mortos, neste momento vivo, sucessivo de olhar um dia de cada vez, no Luís que respira, deitado e dependente mas vivo, metamorfose de o ter tido e de o ter agora, diferente, tão diferente e vivo.
De mortos, de vivos e esquecidos se faz esta régua tortuosa, de andar direito nos passos tortos, de entender, desentendendo cada pedaço, de cada mão, de um tempo de não agarrar tempo nenhum.
Palavras como latas de tinta atiradas, rabiscos de o serem, rabiscos e só isso.

domingo, 6 de maio de 2012

Oscilações

Enganos repetidos, variações e fuga, o tema é sempre o mesmo, o assunto é uma longa esquerda, uma direita ainda igual e o zero que coloco no meio, no ponto de tentar as variações todas e fugir. Negativo, positivo e o zero das neutralidades impossíveis, pontos visiveis que se parecem tocar como mentiras, verdadeiras mentiras, verdades que mentem a verdade de estar ou ser, aparentar ou parecer de uma cor o branco que foge sempre, da cor que se perde sem ele.
O Sol entra quente na janela que o solta, pelas sensações, teclado, emoções da chuva. Da pausa do sol ou da chuva, o recordar de um e de uma, em cada prato da balança, perdida do zero infinito, por alcançar, em cada sensação, em cada cabeça encontrada, na chuva que vem e no sol que lhe sucede como variantes infinitas,do vazio de cabeças repletas.


4 CIRCULOS QUE SE ESTREITAM, VASTIDÃO QUE SE ENCERRRA.


8
A um nada se soma outro nada
e o tempo passa
e tudo se acaba.

Tudo envelhece e tudo apetece
passo o tempo adormecido
na inércia que me vive
tudo envelhece e nada apetece.

Preciso do que me rodeia
para sentir que se acaba
preciso de sentir tudo
para nada sentir.

Preciso de apalpar cada pedaço
do que posso e faço
em cada passo.
Preciso do perfeito
que em nada sinto
e contudo é em cada pedaço
de cada passo que se acaba.

Preciso da procura
que não encontra
preciso de olhar
para não ver.

Preciso do vazio que me enche
para que de mim transborde
no vazio que em tudo sinto.

Preciso de sentir
que não o faço
para sentir do que sinto
o que nunca farei.

Pouco a pouco se fecha o estreito circulo
que a todos fecha
e com todos se acaba.


quinta-feira, 3 de maio de 2012

Lirismos

Poesia é vida, nas formas mais ínfimas, nas mais complexas, é vida no aceitar de tudo o aperfeiçoamento de tudo, como um caminho constante, de nunca ter fim. Subir degraus, de patamares, como limites, do que cada um pode, e é sempre tão pouco mas é o possível, o que se pode de cada patamar, em cada limite vivo, de permanecer vivo como fumo que ainda se enrola em volutas intoxicantes de uma fogueira à muito apagada.

Repetir os gestos e as sensações, mil vezes, sem os conseguir nas miudezas que se recreiam infinitas, no sonho do perfeito, que voa sempre, sempre à frente dos segundos que tombam. Tenho saudades do quadro negro, do meu pai morto, que eu enchia de giz e depois apagava, como se lavasse o que incomodava, de negro ou de branco, de fundo ou profundo, repetido, guardado, repetido.

Escrever e rasgar, escrever para riscar, os sonhos de pesadelos e a chuva de sol, riscar e de novo tentar, repisando o erro que persiste sempre, em cada gesto, em cada sensação de olhos fechados, errados, amarrados de os tentar a todos sublimes e em todos falhar, o alvo que em casa deixo e a casa regresso, de o ter todo o dia, na cabeça, no erro que não o apaga negro, da cabeça de o ter todo, o dia todo.

Sentir, sentir o insuficiente de sentir, o tempo todo, as verdades todas, o tempo todo, as palavras grandes que não se abarcam, oceanos de sentir e navegar e viver e sentir o pedaço e ser.



3 SEM PAUSAS NEM ARREPENDIMENTOS


10

Vejo a verdade como sinto da América
o Atlântico que nunca atravessei.

Não há montanhas que me ergam
ao nível do infinito
ao nível do universo
não há porto do qual eu possa olhar
o que só pressinto e apalpo.

Engano-me
porque de tudo só vejo pedaços esparsos
nos pedacinhos de tudo que em todos vivem
do corpo que em tudo existe só vejo a ilusão
dos pedaços desligados e sem forma
um a um enfaixados na verdade de todos
na mentira de todos condensados
e sempre vivos na verdade de tudo.

Não existe mentira na verdade deste sonho
tudo existe e se faz verdade na mentira toda
que em tudo existe e se faz a verdade toda.

Não tenho do Graal a busca que não posso
não tenho de Deus a verdade que não posso
mas sinto que em mim bate o que não consigo
que em mim existe a verdade que não posso
enquanto aguardo a escada que não existe
e a porta está fechada e nem a chuva me molha
no degrau que eu posso e a nada me leva.

Vejo a verdade como sinto da América
o Atlântico que nunca atravessei

Tenho das ideias a certeza de serem nada
sem os idiotas que as façam funcionar.
tenho do que penso o tempo que me acompanha
e é quando penso que o sinto mais meu.
ideias são o que não falta ao vento
arrastadas no tempo que as leva
de resto me amanho no que vivo e não sinto meu
e quando penso me iludo
me arrasto e me desgasto e nem penso.

Vejo a verdade como sinto da América
o Atlântico que nunca atravessei




















terça-feira, 1 de maio de 2012

1 de Maio

Vou em 54, todos diferentes, pelos locais, pelas conotações do dia ou por ser o primeiro, do mês das novenas, o mês de Fátima ou do Estado Novo, velho antes de o ser. Aonde pára o primeiro, depois de Abril, o primeiro? Os das correrias, mortos e cartazes e uma fé que parecia virar o Mundo, sacudindo o feio, o acabado e colocando na toalha o espirito do que é belo, distorcido desde o inicio, pela fome do proibido, pela ditadura da liberdade, pelo excesso.
É só mais um dia, nascem amigos, morrem Senas e é só mais um dia, que já foi vermelho e agora parece azul, de gelo, ou vice versa para que as cores não pareçam ser mais do que são, cores e nada mais, o resto no somar de dias, aventurados, todos, abençoados, é o que é
de passos que agora se dão, de portas que sempre se fecharam, no abrir de cada uma, de cada dia, sempre o primeiro dos que o seguem
como contas por pagar, sempre por pagar e sempre pagas na novena de cada dia, no ajoelhar de aguentar, as novidades e as cores de cada dia, sempre o primeiro e sempre, o primeiro.