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Do livro verde de Kadafi
ao vermelho de Mao
sem esquecer o negro de Hitler
o que não falta é cor e elegância
imposta
é verdade
mas o que seria de nós todos
se as vontades prevalecessem
e os caminhos não fossem asfaltados
por quem o sabe?
Para que ninguém tropece na tolice
de pensar que vive
ou até que respira
sem autorização de quem vive
e se empenha altruisticamente
para que nós o possamos fazer
também
do que sobra.
O homem necessita de quem o mande
com jeito ou sem jeito para o raio que o parta.
Obedecer porque poucos são os que podem mandar
é a regra inevitável de um mundo regido pela força
que o diga o mundo islâmico
e as lapidadas, os enforcados, os fuzilados
e outros que tais
incapazes de aceitar a grandeza do mundo em que vivem
e dele arredados com a mercê de uma morte sempre justa.
Nomear esse Povo que nem existe
que nunca foi perseguido
é desculpar, talvez, a idiotice de um extermínio falhado
logo
inexistente.
Quando não morrem todos é escusado falar em Genocídios
quando só morre meia dúzia de milhões
ainda por cima questionáveis
foi pecado pequeno, ou talvez asneira grande, falhanço
que felizmente há quem queira rectificar
não dando um só dia de sossego a esse Povo que nem existe
e por isso, só por isso e acima de tudo além disso
merece todas as benesses do mundo islâmico
que num acto de justiça divina
se une, se une na força de uma razão acima das razões todas
e num sopro de fé congregada do mapa varre
o que afinal nem existe.
Dos senhores que vão caindo das Tunísias, Libias e Egiptos
eu só aguardo os varredores da trampa que foi sendo feita
para poder sentir o perfume da que vai ser feita
dinasticamente
tudo em família se arranja
e de um cão se arranja outro cão
e de um canalha se faz outro canalha
para que Meio Mundo possa viver
na Idade Média do pensamento
não para ser um novo Reich de mil anos
mas o atraso de um Voltaire por nascer
e antes dele
o atraso de um Renascimento erguido às estrelas
no quebrar
de um arco
perfeito.
Tanta miséria acumulada, tanto sofrimento e tanta dor
e os valores que se vão firmando
e nada valem
arredados sempre do valor único da vida
de uma só, uma só
que seja
vida.