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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Depressão-13 Pontos de vista

36
A depressão cura-se com apoio
palavras amigas e sorrisos
sorrisos de compreensão
sorrisos de dentro para dentro
no querer descobrir as estrelas
que habitam cada vida.

A depressão cura-se pensando
percorrendo os pontos todos
no fechar de um arco de estrelas
cadentes de um ponto de partida
para um ponto de regresso
tardio, escusado mas necessário.



42
Munch e o seu grito de solidão extrema
reservam a melhor mesa
e o serviço mais esmerado
para os que não podem fugir
e da impressão de olhos fechados
comem a depressão servida com esmero
à mesa de serem eles a mesa e o que se come
de mãos na cabeça
na procura de um tempo de soluções
picado ou desfasado
como perguntas que nunca houve
e agora ninguém quer
no espaço das respostas que se embrulham
omnipresentes no espaço de cada ser
que se embrulha na resposta
de todas as perguntas
que gritam o silencio de haver
e de não haver
silencio.

Em branco

È o que parece, olhando o branco desta janela virtual e mandando acenos, que nem apetece, riscando o vazio com o vazio de uma cabeça que pesa, na recusa de fechar os olhos e riscar só por dentro, o branco da cabeça de a tentar leve.
Não consigo ouvir, o slêncio dos sons todos, nem vejo a brancura dos pensamentos que se acumulam, na lavagem dos inicios e dos fins que se repetem, como flocos de neve pequenos, cristais de gelo minusculos e a brancura que regressa enorme e dpois vai.


12ABC
37
O peso do que é pequeno
quase nem se sente
no acumular de folhas brancas
repletas da sabedoria de tudo ser possível
repletas da porcaria toda
sempre possível
acumulada

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

13 Pontos de vista

18
O exorcismo do que dói do que mais importa
é feito em viagem
e sentido nas paragens
ou nos trajectos de conseguir manter abertos
os olhos ou a visão de dentro
a das cortinas que nem sempre se cerram
no descanso do que basta.

Tudo se resume a uma passagem curta
e nela o que se come, o que se aproveita
é o proveito imenso de tudo ser tão curto
no desfocar das visões para que nenhuma se repita
no serem todas diferentes
de todas serem sentidas
de maneira diferente
por quem as sente ou só pensa que sente
como quem de nada, cria nada e pensa ter tudo
no rebolar das ideias que atenuam constantes
da paisagem a passagem ainda.

Janelas da razão que passa ao longe na linha das montanhas,
ou nas ondas
ou nas casas de estarem lá alheias de gente.
As sensações desenrolam-se como se fossem as linhas de um sismógrafo
nos abanões sucessivos de uma paisagem que se desenrola
em pequenos tremores de vida que palpita
abanões que se repetem ainda
tremores e abanões que palpitam ainda
arredados do grande abanão.

O meu filho está bem, o Vítor regressou do Alentejo
a paisagem ganhou as cores de um sossego aparente
que a Paula propicia.
Nem os gatos me incomodam
ouço Brahms como quem reza
e pela terceira vez como se ainda fosse a primeira
ouço o concerto nº1 para piano
e tento entender os sismos que me estremecem
como se fossem eles e só eles
a recusa que ainda posso da morte que a meu lado
sorri no sorriso de tudo e todos que me foram
que fui
e se esgotam nesta passagem.




12 ABC


7
O sentido da vida
em cada prego que nela se espeta
é estar vivo
como madeira rija ou macia
nos pregos que torcem
e nos que quebram
nos que entram fundo
e nela permanecem
apodrecendo com ela
e acabando com ela.

Misérias pequenas como areia fina
que desgasta o que dela se desgasta
num proveito de esvair
ao vento que a espalha
como sensações por sentir
num regresso sem partida.

Tenta-se a vida toda
encontrar a verdade que a valha
para no fim sentir
no que se vai
a verdade
na vida que se vai
abençoada e desperdiçada
toda.




terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

16 Cristal

32
Quinze anos e prescreveram
do dito ”estripador”
os crimes que o fizeram famoso
mas anónimo.

Quinze anos
nem a idade, da vitima mais nova
atingiu
para poder estar livre, inimputável.

Para as vitimas não houve recurso
nem tempo para deixarem de ser
o que foram sem remissão.

Quinze anos, ou então recurso a recurso
prescreve a culpa
de quem mata ou de quem rouba
para que a culpa seja sempre órfã
ou de quem é burro
de não ter roubado o suficiente
de não ter esperado o bastante.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

13 Pontos de vista

26
Do livro verde de Kadafi
ao vermelho de Mao
sem esquecer o negro de Hitler
o que não falta é cor e elegância
imposta
é verdade
mas o que seria de nós todos
se as vontades prevalecessem
e os caminhos não fossem asfaltados
por quem o sabe?
Para que ninguém tropece na tolice
de pensar que vive
ou até que respira
sem autorização de quem vive
e se empenha altruisticamente
para que nós o possamos fazer
também
do que sobra.

O homem necessita de quem o mande
com jeito ou sem jeito para o raio que o parta.
Obedecer porque poucos são os que podem mandar
é a regra inevitável de um mundo regido pela força
que o diga o mundo islâmico
e as lapidadas, os enforcados, os fuzilados
e outros que tais
incapazes de aceitar a grandeza do mundo em que vivem
e dele arredados com a mercê de uma morte sempre justa.

Nomear esse Povo que nem existe
que nunca foi perseguido
é desculpar, talvez, a idiotice de um extermínio falhado
logo
inexistente.
Quando não morrem todos é escusado falar em Genocídios
quando só morre meia dúzia de milhões
ainda por cima questionáveis
foi pecado pequeno, ou talvez asneira grande, falhanço
que felizmente há quem queira rectificar
não dando um só dia de sossego a esse Povo que nem existe
e por isso, só por isso e acima de tudo além disso
merece todas as benesses do mundo islâmico
que num acto de justiça divina
se une, se une na força de uma razão acima das razões todas
e num sopro de fé congregada do mapa varre
o que afinal nem existe.

Dos senhores que vão caindo das Tunísias, Libias e Egiptos
eu só aguardo os varredores da trampa que foi sendo feita
para poder sentir o perfume da que vai ser feita
dinasticamente
tudo em família se arranja
e de um cão se arranja outro cão
e de um canalha se faz outro canalha
para que Meio Mundo possa viver
na Idade Média do pensamento
não para ser um novo Reich de mil anos
mas o atraso de um Voltaire por nascer
e antes dele
o atraso de um Renascimento erguido às estrelas
no quebrar
de um arco
perfeito.

Tanta miséria acumulada, tanto sofrimento e tanta dor
e os valores que se vão firmando
e nada valem
arredados sempre do valor único da vida
de uma só, uma só
que seja
vida.

12 ABC

47
No Japão em turnos de cinquenta
Homens entregam as suas vidas a uma luta
para o bem de todos
que nunca será o deles
tão certa é a morte que os aguarda
e contudo aceitam na coragem de a conhecerem.

Aqui, por orgulho, não se cede uma virgula
ao que não cede uma letra ou um numero
porque o bem comum é só
o de alguns compadrios e favores por pagar
e desde os saudosistas de Estaline
que sonham com a democracia da Coreia do Norte
aos que defendem as ditaduras do Mundo Islâmico
um lago sem fundo de intenções afogadas
boas e más se afundam na vergonha
de não haver mais vergonha.

Unir esforços e a eles entregar o valor
dos valores todos, o sacrifício do que mais importa
numa dádiva sem retorno.

Unir os conflitos e arredar os interesses particulares
esquecer as devoções pelo ocidente, pelo oriente
e congregar esforços no que somos
pelo que somos
num sacrifício de todos, pelo bem de todos.

O remédio é só um mas todos retardam dos dedos
a garganta e a solução inevitável
de quem gastou e agora tem que pagar
de quem comeu e agora tem que vomitar
inevitavelmente.

Não entendo esta falta de entendimento
esta recusa de um consenso
quando há vidas que se entregam
e aqui
tudo parece ser um jogo de interesses
de dinheiro e prestigio
enquanto se berra
um patriotismo
pelo qual
nada
se quer sacrificar.

Domingo

Escrevi uma enchurrada de textos que não molharam nada e nada mudam, neste assim-assim, umas vezes negro, geralmente cinzento de crise e de carnaval demasiado mascarado, como bombas de riso e alegria de espelhos, na hora certa partidos e rebentados, em milhões de fragmentos, em milhões de esgares de riso e alegria com hora marcada.
Da primavera árabe às prescrições, da RTP à SIC, o que marcou mais o ano passado e ajudou a conciliar o que em casa me marca?

15 MEDIDAS
4
Maria José Nogueira Pinto
e a postura e a dignidade
de parecer que morreu de repente
numa noticia de ultima hora
quando afinal, lentamente
contou os dias que se subtraiam
numa fraqueza, numa traição do corpo
ao espirito que de novo venceu
merecendo plenamente o descanso
dos fortes que também acabam
mas com a luz, luminosos
de serem recordados
e saudados.
    

25
“o medo  é uma cena que a mim não me assiste”
A profundidade de um pensamento destes
revela talvez
uma benéfica intoxicação de chumbo
que a leveza de espirito do Hélio
controlou
para que o balão com rodas
não se erguesse muito acima
das imagens.

O que pensa uma criança enquanto toureia carros?

Desafios a vencer como quem dobra esquinas
negras
no gozo de as dobrar
na magia de um teclado
que nem sempre sobrevive
no outro lado
o da magia de uma só vida
uma só.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Ser

Todos os dias somos e nem sempre o somos, sempre da mesma maneira. Oscilam as vontades de um dia chover e no outro tremer, de um frio que não se explica, no calor de estar vivo e por isso existe, com mais força, de o sentir quente no respirar, no ritmo de ser ou estar vivo e arrastar razões que se perdem fáceis e se ganham inúteis.
Sou o que não sou, de mau ou de bom, para muitos que me conhecem, como eu os conheço, mal. Retiro opiniões como icebergues, que pinto da cor que não têm, submersos. Sou em cada dose de porcaria que vejo, a porcaria que sou, para quem me olha e só avista o insulto, o tropeção fácil, o acordar da chuva ou do sol, o adormecer de tantas  vezes para que, de motivo nenhum, se possam fazer os motivos todos.

11 PAPEL BRANCO


55
Nos dias de tolerância
do que é feito de merda
eu recordo a merda de que sou feito
e quase desculpo os erros todos
na lembrança da minha consciência
que recorda os meus
e os aumenta com o riso da perfeição
impossivel.


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

15 Medidas


28
Maçãs que tombam de as tentar entender
e a ordem que permite o que acontece
numa mutação lenta que não nos pertence.

Aonde param as medidas do Universo
se ele é Infinito.

A desordem criativa
permite explicar tudo
porque a explicação de nada
é de tudo a explicação de tudo
também
e o resto, se o houver, é relativo
é desordem, cansaço ou peso
de querer muito permanecer
neste relativo bem estar
de haver Infinito e Perfeito
por entender
na desordem viciante de querer fazer
o que já está feito
de querer entender do que vejo
e não entendo
o que sou em cada momento
depressivo de continuar vivo.

As viagens que faço são longas
de serem tão curtas no tempo
de as ter em cada sonho, acordado
desacordado ou discordando
de ser sempre o menino
que já não sou
de o ser sempre na compreensão
que por mim viaja
lentamente

no sonho de estar acordado
e perdido da compreensão
que por mim viaja

olhando as janelas da paisagem que passa
e só o menino entende
e não acorda
ou acorda mas não concorda
e assim viaja na boleia constante
da compreensão envelhecida
perdida.

Faço um caminho constante
de acordar a consciência
e andar passo a passo.

Longos ou curtos
na cadência dos momentos
das paixões e dos tormentos
das soluções que passam
ou perpassam
no cinema de ter cabeça
que não se desliga.

Da insónia ou sonho que acorda os passos todos
se  fazem os iludidos
os conscientes, os sobreviventes
de ainda permanecerem visíveis
no descerrar das cortinas do tempo
uma por uma, no tempo de cada uma
e de cada espelho de Dorian inteiro.

O paraíso aos pedaços
em cada pedaço do Universo
o Infinito partícula por partícula
para que tudo possa ser importante
no que se perde e no que se ganha
de repetitivo mas vivo.

Do saturado se faz o sedento
e o cansaço de ser espremido
é o cansaço de haver sempre gotas
guardadas e preciosas
de as querer para sempre
guardadas como espinhos
cravados
como hábitos que permanecem
na dor e no silêncio.

Estarei acordado, ou este delírio constante
é isso
o que por mim vive
de ponto a ponto
de tudo serem pontas por amarrar
pontos a unir
no desgravar de todos
para que nunca pareça repetido
o que se repete sucessivo
ponto a ponto
de cada
e em cada momento
de serem sempre a novidade constante
da novidade que se repete constante
como um pêndulo
que não acrescenta tempo
nem o dá
enquanto o marca
no balanço tolo
que a nada leva
e a nenhum lado
vai ter.





Simples

Tudo é simples, depois complica-se em cada sopro de vida, em cada razão que ergue, a razão que prevalece das razões todas, como se um poço simples de ter água no fundo, se multiplicasse pelas sedes de tantos poços, que não os havia, mas agora há, no tempo todo e no que não há.
Tudo é simples e a razão e a verdade só complicam, de um jogo, a bola que nem sempre se defende, da verdade que não é dela.
14 de Fevereiro, dia dos namorados, namoro a vida de ainda a ter, na verdade de ter os meus e tudo é tão simples com eles, que limpam constantes, o vidro transparente e sem cor, que eu sujo de cores e complicações. Sentimentos que ultrapassam o que sou, no riso de não ser, o que sou deles e de tudo aos pedaços que sujo e limpo de ser deles o funil que os sente de os agarrar e a todos limpar e a todos sujar do que sou de pedaços, deles e de todos, aos pedaços, no pedaço que sou, de vida, de vida e de morte.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

youtube 30 minutos jardineiro poeta

O texto 41, foi lido por mim no programa da RTP 30 Minutos, em que eu sou chamado "Jardineiro Poeta".
Pertence a um período de resignação, aceitação e conformismo, entre Novembro e Dezembro de 2009, com o Luís em casa e a morte fora, graças aos cuidados e carinhos de que foi rodeado. 

5 Negro Luminoso

36
Agarrado a esta frágil palha
para que não se afogue
a esta ténue chama para que não se apague
agarro felicidades pequenas
como vitorias enormes.
esqueço até o que era
agarrado ao que agora é.



37
Pequenas satisfações
pequenos anseios
felicidade que se mede gotejante
nos sorrisos que sobram
de ainda haver
de ainda haver vida
que quer permanecer
viva.



41
Do ainda estares vivo
brotam pequenas flores de contentamento
que as minhas lágrimas regam
num fraco consolo
que ainda assim consola
de ainda estares vivo.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

5 Negro Luminoso

22.
O sentido da vida nela se encontra
e nela se encerra.
Como bolhas de sabão que crescem
ou quase nem crescem
que sobem ou quase nem sobem
mas todas acabam, num instante
tão curto, tão curto
que o proveito, é o terem durado
um curto instante, curto.

O sentido da vida nela se encerra
e nela se encontra
em cada vida, em cada uma
que se acaba, que se acaba.

O sentido da vida nela se encontra
nas vidas que se unem
nos pedaços esparsos que a compõem
no que se perde e no que se ganha
de partidas sem regresso
na dor que oprime, no prazer que sufoca
na alegria que se queda vã…
o sentido da vida nela se encerra.


5 Negro Luminoso

21
Morreu um Homem bom
cumpriu o destino de quem vive
com a mesma rectidão, que poderia ser o seu nome
se não fosse Manuel Lopes de Seabra
o que não incomodava nunca
mas queria ajudar sempre.

Era do tempo
em que as coisas se faziam para durar
os panos nunca eram velhos mas usados
e as ideias eram pensadas e a palavra era um tesouro
que se preservava limpo e reservado
para quem o merecia.

O que dizer da paz que dele me transbordava
do sossego que ele me conseguia
de estar lá, em cada pergunta, em cada presença
de estar lá no local que ele conseguia
sempre certo e oportuno.

Morreu um Homem bom
uma vida longa fez-se tão curta
na hora de o perder e sentir fundo e longo
o vazio que deixou de Homem bom
que se foi, velho na idade, tão jovem nos valores
que toda a vida cultivou e tão raros se fizeram
no que agora sobra sem ele.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

5 Negro Luminoso

4
Meu anjo de asas queimadas
querias voar
mas eu nunca tive
o que te faltou de asas e sossego
que eu nunca tive.

O que te faltou
diz-me baixinho para que todos o ouçam
no teu silêncio.

O sossego que agora tens
envergonhado anseio roubar-to
na culpa de não te ter dado
na culpa de te querer dar
o egoísmo de me fazeres falta
a mim a mim
sim a mim.

O que te faltou
diz-me baixinho para que todos o ouçam
no teu silêncio.

A falta de ti que me magoa
mais o pesadelo que me deste
e eu nunca poderei esquecer
mesmo que do teu descanso
te consiga roubar
mesmo que contigo me possa aninhar
para que me digas baixinho
o que te faltou no teu silencio
que agora estoura
na minha cabeça vazia de estar viva
e nem o sabe.

Diz-me baixinho, o que te faltou
para que eu possa do que me falta
sentir o que te faltou
e baixinho, baixinho quero guardar.

5 Negro Luminoso


I want with the difficult of the moment
so recent and with so much pain
I want to tell the story of the most beautiful head
outside the smile of the champions
the sun to everybody
inside the illness of no reason
the darkness of the silly nightmares.
All the words of all the world and I don’t have one
a single one to explain so much pain.

We have in our brains, the universe
we have the dreams and all the darkness
and sometimes we have no mind to make the choice
between the dark raven and life itself
 
All the possibilities in my head
and all are made of, if maybe
and always never more
with no raven, no more talking
no more, never more
maybe my dearest child, but you know
I have your brother and your mother to love
and all the people, since the first day
they are always saying to me:
“You need to be brave, you need to be brave”.

I’m brave, in my weakness, I’m brave
I need to be alive to have my heart full of memories
and to cry the most beautiful Portuguese word
saudades.

NEGRO LUMINOSO

Mais um dia, de Sol e de Noite, miudezas correndo no ondular da disposição, falta um pedacinho de sal e logo é de mais, o sal que se sente, comido no tempo, pé a pé no equilibrar de cada segundo em cada prato que se come.
Antes, há séculos, parecia difícil, agora é impossível e contudo aguentar é um caminho miúdo, de ser enorme, de ser do que se pode, o que surge, o que acontece.
Dois anos e meio a contar faíscas como estrelas, a verificar juntas e miudezas, compressões e ritmos na melodia de estarem vivos, de estar vivo.
Dois anos e meio a escrever cansaços, que parecem nascidos a meu lado e me dão a mão para que se mantenha o equilíbrio de permanecer vivo.
Dois anos e meio e o “ Negro luminoso “, as sensações de ficar perdido, num ermo sem entendimento, de sentir, só sentir e nunca entender.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

5 Negro Luminoso

16
Hiatos
círculos que não se fecham
no tempo que por eles se fechou
pedaços que já não colam, partidas que se acabam
despedidas que findam.
Tudo é tão simples que dói de o ser
herméticos se fecham os momentos de cada um
para que no tempo, de todos, tudo se vá indo
no sentido de o ter
no fim, sempre no fim, de cada um
de cada ser.

5 Negro Luminoso

8
Aonde estão as flores que eu nem vi de serem tantas
e agora não vejo porque acabaram
e não me levaram
com elas ou sem elas
para o local das coisas certas
que aceitam
aceitam e aceitam
e se acabam para que haja um recomeço
com flores que ninguém viu de serem tantas
e agora não vejo porque acabaram
e não me levaram
com elas.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

4 Circulos que se estreitam, vastidão que se encerra

9
Olho das estrelas a distância
que não alcanço
e penso
que para me sentir pequeno
me basta sentir parte
desta vasta colmeia
em que um acaso me depôs
num curto instante
que a ninguém pertence.

Não entendo do universo a vastidão
e do eterno me perco na ilusão.

Sinto-me num quarto escuro
de pé
num canto amarfanhado
e de mãos na cabeça
que não sinto que não pensa
perdida nas lonjuras
que não sente
vazia de noções que não entende.

Não entendo do universo a vastidão
e do eterno me perco na ilusão.

4 Circulos que se estreitam, vastidão que se encerra

31
Do universo extenso
do eterno apressado
sobram sempre as migalhas
que ninguém come
deste bolo
que nas mãos se desfaz
e não há pássaros que as comam
nem gente que aproveite
das pernas que tem
o caminho que nelas se encerra.

Corram o que podem
porque nem sempre  poderão
de cada corrida atingir a meta
do cansaço
e da luta de cada uma.
Que ao menos valha a pena
a meta do cansaço
de cada corrida.

Sinto hoje do universo
a retrete que me senta
erguendo o que sou
e nunca deixarei de ser
do eterno que não posso
e todos os dias eu sento
para que se repita
o que todos os dias se repete.