A nossa Língua é a nossa identidade e é o melhor som, o mais aproximado dos sons todos, que ainda agora fazem eco dos sons de Portugal, espalhado pelos cantos todos. Mudar o que cresceu ao longo de centenas de anos, ganhando ser e tendo saudades do que é nosso, só, porque não o valorizamos, é acabar nisto, neste vazio de um fado triste, de ter tido Pessoa e ver dos mais belos textos do Mundo, traduções para uma Língua, que dizem, ser a dele, a dos textos e é só, a dos ecos, a dos locais diferentes.
Em 2009 e com o lirismo, de ainda viver, como se tudo fosse leve, fiz um texto, que agora, no peso, que me aguenta vivo, reli.
Tenho orgulho em ser português, das tripas de sacrifício até aos melhores queijos do mundo, da pena de morte até à revolução dos cravos, do nosso Manuelino até ao barroco de talha dourada e azulejos. Bocage a tua essência é nossa, Camões e Miranda e Lobo e até os navegadores e os que mentem e os que caminham é deles o que é nosso. De Eça a Pessoa intemporal, Almada arregalado e tantos outros que marcaram épocas e autos com barcas que ainda agora navegam e movem o meu orgulho.
A língua que eu falo e com a qual tento escrever, do latim emanou como a mais bela, mais de mil anos a foram burilando, atenuando arcaísmos, assimilando outras línguas gota a gota, num preciosismo que a preservou como fonte limpa. Em todo o Mundo correu a água de Portugal, e das areias, das terras, do calor e das gentes novas se ergueram novos sons, que por mais belos que sejam, não são os de Pessoa e aqui entre nós quem tem Pessoa, tem os sons que não se podem perder, a musica das ideias, o desfazer de tudo na reconstrução de tudo, como quem desfaz para reconstruir da mesma maneira, sabedor como quem está para morrer, do mistério das coisas que afinal é só o mistério de sermos, marçanos que pensam, e por muito que pensem, nunca haverá sonhos de meninos e rebanhos fora de Portugal, das nossas saudades do nosso nevoeiro, que a mente exagera e ao som da mais bela Língua se faz musica.
O tempo de uma forma natural, lenta e certa, foi-nos traduzindo Camões e seus pares, amadurecendo com a sabedoria do tempo a língua viva que é a nossa. Os segredos de estado Americanos são guardados por mais tempo, do que o tempo que nós parecemos dispostos a dar aos mais belos sons, às mais perfeitas uniões de palavras que nenhuma língua além da nossa atingiu.
O latim em cada canto deu sua língua, morreu deixando descendentes. O Português em cada canto se fez outra língua, quentes, dolentes, diferentes, repletas de sons maravilhosos mas não é por ser maravilhoso o canto do rouxinol, que o vamos absorver como se fosse nosso. Aceitar as pequenas e as grandes diferenças, que pelo Mundo se espalharam de uma raiz comum é aceitar que se vão fazendo iguais, as plantas que têm que ser diferentes, tantas são as diferenças nas terras, nos ritmos de vida, no clima e nas gentes plantadas por esse Mundo.
Aceitam os ingleses assimilar os ritmos e os sons que pelo Mundo espalharam e agora parecem ser um eco com vida própria? NÃO. Aceitamos nós a Madeira e os Açores, o Alentejo e o Algarve e todos os pedacinhos de Portugal como parceiros para definir uma língua ainda mais comum? NÂO. Do latim se fizeram línguas, do português que se façam línguas, diferentes pelas necessidades e engenhos mas iguais nas vidas que lentas as mantêm vivas, no sabor e necessidades de cada canto.