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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

11 Papel Branco

1
OLHO
longamente o vazio de uma folha
em branco
e lentamente nela sonho, os pesadelos
e os sonhos
possiveis que eu nem conheço.

A todos eu ponho
na brancura do papel
que não sujo, incapaz de o manchar
da brancura suja que por mim pensa
acumulando borrões
luzes e escuridões
QUE AOS SAPATOS
de um caminho de esquinas escusadas
e encontrões colados
se grudam por nadas e por tudo.














E tapas, etapas


O aguardar de respostas ou de vida
em cada resposta que se faz pergunta
de haver sempre mais
em cada patamar das descobertas todas,
por momentos conseguidos e logo perdidos
em cada patamar de degraus encontrados
na pergunta de cada um
sempre a mesma pergunta
de
degrau
de haver estrelas ao alcance da mão
sempre
da ilusão e do fumo que se guarda na ponta dos dedos
esvaidos no fumo dos segundos
dos dedos e do voar de cada único.

O percorrer dos instantes como gotas que se unem
num copo sempre vazio.
Palavras que se acumulam quietas
de encherem a cabeça de sons,
de Brahms e de silencios
de variações e de fugas
palavras formadas
alheadas fornadas de um calor de forno
que aquece e arrefece
quieto
este calor de estar vivo.


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

10 Luis

1
A fé que salva pessoas
mas consegue esquecer
outras
poderá ter muitos nomes
ou atributos
mas no fim
é só sorte momentânea
acaso
ou dinheiro que permitiu adiar
o fim,
que é o fim dos milagres
o esgotar do tempo,
o acabar certo
de um viver incerto
mas com fim marcado.

Queria ter a sabedoria
de dissertar monocordicamente
os ditos
e os contos todos
da sabedoria popular
democráticos e sempre certos
como boatos que se fazem
a razão
de a terem,
mesmo que a não tenham
porque no fim
a razão
se faz
do que sobrou de razões
espalhadas a esmo
na prece dos conventos por erguer
na pressa de tudo serem momentos
de prece que passam sempre.


domingo, 25 de dezembro de 2011

9 Analogias de tudo e de nada

1
É no papel que eu deixo escorrer
a estupidez do entendimento
numa matemática de números incertos
de charadas e linhas cruzadas
que passam por pensamento
e repetem, repetem no infinito
do finito
os resultados que nunca são iguais
de tanto se tentarem
nos atalhos e caminhos
que mudam como muda o tempo
e o sol e a chuva
e o ser que tenta, tenta sempre
no recreio de se perder.

A solução de tudo é tão evidente
e tão próxima
que também consegue ser a solução
de nada.  

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

8 Precursos dos percursos

5
No início as duvidas não existiam
o tempo não emperrava
nas perguntas sem fim
e o sentir sem ferrugem era inato
e sempre certo.

Os precursos eram percursos por fazer
e tudo era certo como os dias
que começavam e acabavam.

Depois vieram as mortes físicas
as mortes mentais
de tentar apagar o que se acabou
e nunca o conseguir.

Sempre tive medo da entrega
que nos faz dependentes
e por isso me entrego
num exorcismo doloroso
ao que perco
em cada segundo
de entregas que faço
como se professasse a religião
de estar vivo
com a intensa fé
de por ela morrer.


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

7 Elementos do Espirito

8
Metade do que por mim passa
eu perco, tentando entender
dos momentos,
os elementos que compõem,
os momentos.
A outra metade nem dela me apercebo
enquanto voo
talvez na face oculta da minha lua
vendo talvez com a lucidez
que depois esqueço
as longas visões de tudo
que a nada levam.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Não há comentarios

37
“De onde copia você o que escreve?”

Não me ri, ouvi serio e respeitosamente
e depois num acto de fé enumerei lentamente
as revistas e as vidas, os segundos e os momentos
que eu roubo e faço meus
as vidas que por mim passam e se fazem minhas
de eu sem lhes pedir licença
as aproveitar.
Os livros, os filmes, os passos que dou
e tantas vezes os que não dou
porque outros por mim o fizeram
e eu sem vergonha aproveito.
Senti o armário que sou nas gavetas tantas
numeradas e nomeadas que sem fim fui abrindo
aos momentos e por momentos escancarados
que longamente desfiei do novelo que afinal não é meu.

Quando quase sem fôlego parei, na curta pausa que fiz
e antes que vergonhosamente me esquecesse de o fazer
pedi licença para plagiar a palestra tão construtiva
que amenamente tínhamos tido.  

Não há comentarios.

O espirito, a alma, a consciência, ou como no meu caso, o desbloquear de um pensamento fixo, ergue sensações interiores, que imitam a fome e a sede, que são fome e sede, um vazio permanente, um entreter da cabeça, que viaja num regresso constante, ao pensamento fixo, ao estar vivo ainda e por isso escrevo, entretendo devagar os temperos e divagando sozinho,o meu sal e a minha pimenta, de ninguém mos comentar.
Não há comentarios, é verdade, se excluir a opinião que verbalmente me foi transmitida ontem, reenviando-me para Manuel Pina e a opinião varias vezes formulada, no encontro de poesia de Matosinhos, de nada haver de novo nas palavras, além de um copiar constante, de um roubo permanente, das miudezas que ganham cor e conteudo, filtradas em cada mente que sonha a magia de pensar, como se o fizesse num exclusivo,que afinal é de todos e é sentido, é procura, é identidade e é vida.Nada de novo, somente vida.
Há dois anos foi-me colocada a mesma dúvida e eu fantasiei uma resposta, no sossego de ser desnecessária.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

15 Medidas


23
Dividir com jeito
lentamente
como quem parte um pau
a meio
sucessivamente
dividindo a meio, cada meio
procurando a medida
o meio que permita
o retorno da unidade
perdida.









Silêncio e ausências

Quase tudo
se pode comparar a este percurso,
ao que nasce e ao que morre,
Do Sol e dos dias,
aos livros e vidas,
tudo teima um inicio e um fim.
Somos como bolas de um jogo de cores e afectos
e todas fazem falta
as cores e as bolas
e os afectos que se acumulam
conscientes, inconscientes
de serem o que sou aos pedaços
grandes ou pequenos
dispersos no tempo
de ainda parecer meu
o tempo do jogo
e de ser.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Continuação e fim

acredita e as volutas dos cigarros que a eternidade lhe reservou, enrolam-se nos meus sentidos embotados, incapazes de desmontar este edifício, de ruas e de gente, de concretos e palpáveis, do real e do impossível, que, genial, de uma cabeça brotou, como se fosse simples, esclarecer tudo para que tudo possa permanecer igual. Fazer o funeral da vida para que ela possa ressurgir mais forte, até no chocolate, nos marçanos e no capacho.
Estou agora a ler Caeiro e a sonhar não a morte mas a vida de tantos poetas num só, gostava de ser o menino que desce a encosta, o mistério de não haver mistério nenhum, o Deus que quis ser as pedras e as coisas e os rios, principalmente o pequeno rio de pouca gente da aldeia que desconheço. Mestre de uma paz que nada pede porque tudo aceita, como natural e bom, o concreto, o sentido das coisas é o sentido de elas serem o que são e não pensar em nada é o bastante.
Do Alberto torna-se impossível alcançar a paz da explicação de tudo, que não existe fora do que existe e por si se explica.
Do Álvaro torna-se insustentável a busca de tudo, numa busca de gigantes e de extremos, numa fuga impossível do real, que de si mesma se sustenta, canibal e incapaz de fugir ao circulo majestoso que se fecha nas estradas e caminhos que a nada levam mas tudo levam.
Da Pessoa que dizer, dos “delitros” às quadras ao gosto popular, do “sal de Portugal”, ao Reis que admiro, sem nele comungar, da mesma devoção quase divina de um crente que sabe ser descrente até ao mais intimo da sua crença e contudo ama a vida como a um deus e tudo quer saber, com a permanente noção de que nunca saberá nada, além da “metafísica de não pensar em nada”, ”consequência de estar mal disposto”.
Transeunte de tudo, até da própria alma, mangas-de-alpaca mesmo sem elas, o que dizer do discreto Bernardo, invisível de estar lá, vestido das vivências que o não deixam ficar nu e capaz do Universo na rua dos Douradores, mais o enigma de viver.
O que me vai na alma, na alma vai e comigo vai, cansado e sempre incapaz de sentir do percurso os passos que dei, nos que não dei.


Continuação

Invocar as musas do passado e ter a noção delas, que no presente não tem, sentir ainda mais o hiato que se sente, despejado e por invocar. Ter da janela a visão do real nítido e absoluto, dos seres e das coisas, no peso que em tudo se faz alheio.
Ter feito o que todos fizeram e invejar todos só por não serem ele. Ser o que não quis e o tempo passou e acomodado já não pode mudar mas contudo mantém a lucidez de quem longamente pensou e não o fez em vão. Sabe o que é de sublime no que pensa e no que deixa cantar as palavras.
A essência e a música dos versos, de onde partem, aonde vão, inúteis mas com início, sempre defronte da Tabacaria de defronte, sempre desencontrados de quem os faz, no tropeção do que não vale nada e por isso calca a consciência de estar existindo.
E a realidade palpável de repente surge, tudo tem o seu tempo curto, por mais longo que pareça, tudo é tão curto, na hora de acabar, que tudo se faz tão breve, pedaço a pedaço, nas fileiras do tempo e do espaço. Tudo se sucede e as ruas e as gentes surgem e depois vão e o mistério permanece, lá no fundo tão certo como o sono que tudo permite, de inúteis, de impossíveis, de reais que se fazem o concreto, o mistério e tudo.
E de repente o concreto visível, as dúvidas que pouco valem, na realidade que cai e se faz certa de uma energia, que se ergue e no que diz se faz certa e humana, dizendo o contrário.
Num cigarro, no saborear do momento, na pausa em que se libertam os pensamentos e do que fica se ergue a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Fumar, enquanto o destino conceder e, se o destino o quisesse feliz, talvez o fosse, mas já agora da cadeira se levanta. Vai à janela.
 E o concreto visível de novo surge, mais as dúvidas que nada valem, mas agora identificado e sem metafísica, acena e tudo sorri, para que o universo se possa reconstruir de novo, sem ideais nem esperança.
O que fazer do que é belo, se só por inteiro o consegue ser. Da rosa sobram sempre as pétalas, que fora dela nada valem, de um texto como a TABACARIA sobra sempre a beleza das imagens que dão o sal e a pimenta de um tempero genial. Tento, do stress do engenheiro citadino, sentir as preces do ateu que acredita que não

Continuação

Quando as palavras escritas atingem níveis de beleza lúcida, de pensamento criativo, muito além do génio comum, ficam estanques, herméticas, vibrantes como correntes de música e som impossíveis de contornar, num tempo só delas que os afortunados que as podem, agradecidos bebem e agradecidos longamente tentam.
Leio a Tabacaria desde os quinze anos, não comecei Campos com ela mas, quando a descobri, sensações para as quais nem busco palavras, na vergonha de as sentir vãs e vazias, me inundaram num Mundo que sentia com sentido na falta dele, destruído e reconstruído estância a estância para que o sentido de tudo seja sempre o sentido de nada e o acaso tudo leva e tudo apaga na metafísica, que é uma “consequência de estar mal disposto”.
Tentei ao longo dos anos abranger, um pouco, sempre um pouco do que o tempo e o meu estado de espírito me permitiam das páginas sublimes de um texto que tenta o Universo para se firmar grandioso e tão vasto no monta e desmonta da Humanidade perdulária. Nunca o conseguirei mas hoje que as minhas esperanças voaram estéreis e vazias, hoje tudo eu posso tentar, não há derrota que me derrube, nem vitória que me possa elevar, do cansaço que se fez negro e buraco e buraco, negro.

Não ser nada mas do mundo ter as hipóteses todas. Olhar alheio e desconhecido e fútil para o mistério da vida e dos seres, que é real e certo como a morte que tudo leva para o nada.
Sentir da verdade a derrota, o estar desligado e por isso lúcido e, ao partir, de tudo sentir a explicação palpitante de já ser alheio. Sentir que tudo é sonho, sentir o que pensa como outra realidade e ficar dividido, entre o que é e o que parece, entre o achado e o perdido.
Tudo e nada, extremos que se tocam ao sabor das vontades, do acaso que parece tornar tudo tão igual, que até bloqueia o pensamento e o faz pensar em pensar. O acaso brinca com os seres e o que serão, são tantos para tão pouco e o sonho a todos alcança e todos pensam poder o que poucos, muito poucos, poderão.
Tudo se faz vasto e distante, o gozo do mais simples se perde, ao tentar explicar o que é para ser sentido e só assim se explica. Pensar e pensar, numa insatisfação que parece infinita, mas que vai guardando do impossível, a certeza amarga de um destino que sem lágrimas sente ser o seu e estóico aguarda.

8 de Dezembro Festa da Poesia Matosinhos

Encontrei Alberto Serra, conheci Manuel Pina como um refresco de consciência, da minha, tão fresco e sereno o senti.O Serra informou-me de um programa, que por acaso é sobre o que escrevo, o que vivo ou talvez o que morro de instantes e esperas, afinal, esse programa já esta pronto. Ainda não o vi, aguardo e guardo este longo hiato, tão fácil de romper por um simples telemovel.
O programa do dia da poesia, falhou no horario, tudo se atrasou e contudo foi bom, no pouco que consegui ouvir, consegui participar, alheando-me para poder sentir que tudo já está dito e só resta copiar ou roubar, nesta indefenição do que é a Poesia, da parte de quem sabe, enquanto o D. Guilherme Pinto ao falar do que é prosaico e do que não é, me recordou Caeiro, o marçano do que é simples e Campos, o marçano inventor do que complica, como recreio de um jardim de todos e tudo é prosa.
Ver para crer, aguardar e sentado se for possível, o Mundo é feito de promessas e verdades, aguardo e vivo em cada segundo, a promessa e a verdade de cada um, a promessa, a mentira e a verdade de cada um.
Reli e aqui coloco o meu entreter da cabeça de 2009, quando o meu Luís disparatou, aconselho o texto da Tabacaria, para acompanhamento e complemento.

domingo, 4 de dezembro de 2011

16 Cristal

estando vivo
se ganha a competência de morrer
sendo recordado
se pode ser esquecido
e é só
do que passa
e parecendo nada deixar
que se amontoam as despedidas
e as partidas constantes
de nem todas serem fáceis
só.

sábado, 3 de dezembro de 2011

15 Medidas

37
O suicídio de cada dia
adormece na medida de cada dia
e acorda na medida que finda
em cada dia.

Tudo está bem feito
e a corrida corre connosco
numa meta que é sempre um inicio
na medida de cada segundo
na medida de cada vida
no acabar de cada dia
nas medidas sempre certas
de um caminhar sempre incerto.

O suicídio de cada dia
acaba todos os dias
e do refresco de acabarem
se faz o continuar
desta missa de orações esquecidas
que se prolonga no adro
no cheiro das flores que secam
e no cemitério ao lado.

15 Medidas


9
JULHO
Já nem me sinto culpado
sinto a culpa toda
a culpa de uma condenação
que dei em vez de receber.

Os passos todos que foram dados
e tantos tiveram a preocupação
de mo anunciar
ficaram gravados no meu sempre
ao lado, em redor
por dentro e por fora de tudo.

Nestes dois anos uma vida mais longa
do que a minha
anseia embebedar os instantes todos
e nem isso pode.

Parecem vómitos que me sufocam
constantes de os saber meus
para sempre
de os guardar nesta bebedeira
de não a ter em cada instante
nos passos todos
que foram dados
e no meu sempre
para sempre colados.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

14 Dependências

34
Da bebedeira de estar vivo
sobra sempre a ressaca
de estar vivo
de um dia passear nas estrelas
e no outro das Marianas
sentir as Fossas que se erguem
de estarem lá, no sitio sempre certo
de as encontrar e de as perder.

O tempero aguarda o paladar
do dia
do sal e do picante
de uns dias tudo ser jantar
e noutros
se levantarem os momentos todos
para que noutros
tudo pareça deitar
o que ainda nem se levantou.

Um travesseiro que desligue
esta bebedeira dos sentidos
que permita da ressaca dos momentos
o desligar dela
no descanso dos passamentos
dos passatempos
dos pensamentos.

16 Cristal

Um menino de três anos foi posto a lavar
e morreu
vivo em excesso, na opinião de quem o cuidava,
ou do pai que o centrifugou
das culpas todas, dele, dele, só dele
que o matou.

Aonde se encontra a vida desse pai
neste momento?
Deveria estar morto, mentalmente morto
e contudo é gente ainda
com direitos essenciais que não deu
mas que lhe vão ser dados
como à mãe que calou e assim consentiu
este desfecho.

O pedofilo belga queixou-se
da luz que lhe apagavam cedo
não reclamou da escuridão nem dos maus tratos
que ofereceu às meninas que matou.
Este talvez se queixe da roupa mal lavada
ou mal passada
enquanto a Justiça, preservando os direitos de todos,
o mantiver preso e vivo.