Quando as palavras escritas atingem níveis de beleza lúcida, de pensamento criativo, muito além do génio comum, ficam estanques, herméticas, vibrantes como correntes de música e som impossíveis de contornar, num tempo só delas que os afortunados que as podem, agradecidos bebem e agradecidos longamente tentam.
Leio a Tabacaria desde os quinze anos, não comecei Campos com ela mas, quando a descobri, sensações para as quais nem busco palavras, na vergonha de as sentir vãs e vazias, me inundaram num Mundo que sentia com sentido na falta dele, destruído e reconstruído estância a estância para que o sentido de tudo seja sempre o sentido de nada e o acaso tudo leva e tudo apaga na metafísica, que é uma “consequência de estar mal disposto”.
Tentei ao longo dos anos abranger, um pouco, sempre um pouco do que o tempo e o meu estado de espírito me permitiam das páginas sublimes de um texto que tenta o Universo para se firmar grandioso e tão vasto no monta e desmonta da Humanidade perdulária. Nunca o conseguirei mas hoje que as minhas esperanças voaram estéreis e vazias, hoje tudo eu posso tentar, não há derrota que me derrube, nem vitória que me possa elevar, do cansaço que se fez negro e buraco e buraco, negro.
Não ser nada mas do mundo ter as hipóteses todas. Olhar alheio e desconhecido e fútil para o mistério da vida e dos seres, que é real e certo como a morte que tudo leva para o nada.
Sentir da verdade a derrota, o estar desligado e por isso lúcido e, ao partir, de tudo sentir a explicação palpitante de já ser alheio. Sentir que tudo é sonho, sentir o que pensa como outra realidade e ficar dividido, entre o que é e o que parece, entre o achado e o perdido.
Tudo e nada, extremos que se tocam ao sabor das vontades, do acaso que parece tornar tudo tão igual, que até bloqueia o pensamento e o faz pensar em pensar. O acaso brinca com os seres e o que serão, são tantos para tão pouco e o sonho a todos alcança e todos pensam poder o que poucos, muito poucos, poderão.
Tudo se faz vasto e distante, o gozo do mais simples se perde, ao tentar explicar o que é para ser sentido e só assim se explica. Pensar e pensar, numa insatisfação que parece infinita, mas que vai guardando do impossível, a certeza amarga de um destino que sem lágrimas sente ser o seu e estóico aguarda.