Mais um ano que passou
voando ou
pintando os segundos, na cor de cada um,
na tela branca e neutra que acolhe indiferente
o tempo de cada um, os momentos diferentes
perdidos
indiferentes.
O gosto e o desgosto, alegria e tristeza, morte e vida.
O meu Luís morreu e eu desconheço a cor da morte
não consigo pintar de negro, as recordações que ainda vivem,
nem de roxo, tantas são as cores do amor, da união que fortalece na tristeza,
nos que ficam, nos que permanecem...
Das recordações que ficam, guardadas, preciosas
fica sempre o sabor das que não houve, amargas, perdidas.
O tempo é um silêncio que o coração arranha
batendo descontrolado
é uma tela branca que se deixa pintar, sempre branca
para quem a pinta.
Sons encerrados que ao tempo, ou no tempo se soltam
Bach dos momentos todos, Brahms de os sentir a todos, Beethoven das sensações todas
dando infinito aos segundos, eternidade ao efémero e noções perdidas em cada encontro.
Encontros como viagens de ir, de acabar
fitas desenroladas com a cor de cada encontro, arco-íris de estar vivo
de unir arcos, arco a arco nesta ponte de estar vivo.
A melodia do meu filho acabou, não há partituras que a devolvam
há este continuar no que fica, no que se ganha permanecendo
e assim ganhei
uma filha como um sonho, um neto que ilumina os momentos
com a presença palradora, alegre ou birrento, mas sempre lindo.
O jogo continua enquanto os jogadores mudam, um a um
no jogo de cada um
das pontes que acabam se fazem as que continuam
neste jogo de ler o mesmo texto, o dia todo, todos os dias
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