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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Trezentas e sessenta e cinco voltas.

Parafusos que apertam e depois desapertam, moendo roscas e cabeças de rodarem tontas. Chaves de acertar tudo, desgastam emoções e noções e na hora de acertar partem para um novo parafuso de trezentas e sessenta e cinco voltas.
Cinquenta e cinco numa fila desigual de madeira, de pedra ou de ferro. Alguns quase partiram, desgastados, tontos de tantas voltas que parecem sem sentido e nas voltas o encontram e parecem enterrar fundo a vontade de as dar, permanecer, acontecer, ser.
De parafusos partidos foi um ano cheio que ainda não acabou.
Em cada esforço partem, em cada noção acabam e as voltas que enrolo e logo se desenrolam parecem sempre as que nunca dei, as que alguém me ofereceu numa borla do carrossel.








quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O travar dos momentos.

O mistério de um  copo de areia,
de uma folha branca ligeiramente coberta
de uma fina camada de poeira.

A solução de procurar mistérios no vazio do tempo,
preenchendo o vazio de mistérios e de tempo,
entendendo que as coisas são de sentir,
e as soluções são
e só são
o resultado final.

Percorrer pelos sentidos que entendem
e nunca pelo entender
que se perde constante no haver passos
que não se podem.

Nos limites de cada um, nos limites de todos
acatar dos natais de todos os dias
os dias e os desnaturados de sempre
todos os dias e necessários sempre.

Ando acelerado, devia manter-me calado
ansioso e calado
devia correr num ofegar silencioso
reservado e cansado.

Precipícios de não ser engolido
fazem-se curtos, passos curtos digeridos
da intransigência de momentos
que permitiu os saltos e os desnecessários
nesta coerência de ser incoerente
como rumo de encher vazios de tempo e de mistérios
de monstros e armários
por baixo e por cima da cama.

Não há nada igual
nem o cinzento de cobrir quase tudo
nem o negro como vagas de uma luz
dentro
passeando cabeças, viagens de estar quieto
paisagens de as ver dentro
correndo como febre que arrefece os sentidos todos
entendidos
todos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Hibernar

Outono das cores novas
em que o verde ainda é verde
mas parece cansado,
folhas que caem vermelhas e amarelas,
folhas castanhas caídas e o verde ainda
como manchas de vida,
aqui e acolá,
persistente
enquanto folha por folha
tudo parece acabar nos esqueletos tortuosos
e despidos
como promessas feias
de tempos melhores.

hoje parece que entendo do terço, o repetir constante e o acabar constante, arrastado, monocórdico como fé que se varre dos cantos e a eles de novo regressa, no repetir que enxuga, no repetir que cauteriza, no repetir que prolonga os sons e as vidas como ecos

As cores de acabar, as cores de começar
todas são do branco pedaços
e nenhuma é branca
e todas são diferentes
como manchas, manchas de ser
de por e de erguer.
Momentos, tempos que passam
nesta pressa de olhar sentado
a paisagem dos meses
apeadeiros curtos insignificantes
de serem o percurso todo
de Natal a natal.











quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Datas que se marcam

Assim ou assando variando ou andando,
nascendo e morrendo
de que cor se fazem as cores do que parece,
do,
do que acontece e depois fica eterno,
no pedaço de eternidade de cada um,
de cada elo mais elo que se quebra de continuar.

Uma palavra e ao lado outra,
um sentido e o outro,
as coisas brincam às escondidas de se mostrarem
e não serem entendidas,
tudo é tão simples
que os filtros do entendimento
entopem
e variam,
incapazes da linha direita
do inicio e do fim,
ruminantes de erva que não há.

Religiões pelos cantos
todos
certezas ao alcance das mãos
e dos pés
noções fundamentais de só alguns entenderem
congelam infernos do fogo de ser
negro do tempo que passa
em camadas de ilusões
de vida e de beleza
de instantes como camadas.

As tintas de ser em camadas finas
pesam a lata inteira
e o ver e o sentir o feio e o belo
o de todos
na visão estreita de cada um.

Traços marcam antes e marcam depois
e o contar de dias é um passeio imposto que se faz vida
e agrada em cada momento
de a sentir antes
antes na espera de antes
enquanto duram os momentos de espera
de ser tudo antes
antes
e tudo é bom mesmo quando parece mau
neste pulsar de estar vivo.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Guardar

É um comer de instantes, todos maravilhosos, nem sempre fáceis de digerir e é por isso que se vomita, deitando fora para poder engolir os momentos e a sucessão deles, o cair, o erguer, o antes e o depois.
Farrapos de recordações, rasgam e remendam bocados, regressos esquecidos e pensar de novo, retornando ao tempo de saber tudo e sabendo tão pouco ainda e sempre .
A verdade de cada instante, absoluta, perde a razão e o ser no instante seguinte. De olhos fechados, de olhos abertos e o que vejo é o que sinto no funil de cada instante. Fechados ou abertos num recreio de sensações trocadas, em cada nascer, em cada partir, em cada retorno curto de o pensar.
Foi um ano de muitas mortes, muito recordar, do que guardei, do que sou de vivos e de mortos, de andar ainda com eles a meu lado, repetindo sorrisos e zangas, palavras e silêncio como gotas tão diferentes de haver sempre uma harmonia, no diluir das diferenças.
Morreu a 6 uma senhora linda, contadora de estórias e de vidas, ao ritmo da tesoura que parava, da vassoura que se aquietava para lhe ouvir o riso fácil, um riso menos vibrante desde a morte do marido mas um riso ainda assim cheio de vida. Agora morreu e o que ganhei de a conhecer em nada se perdeu.
As verdades, as certezas são de cada instante o que se ganha e logo perde. Bases ocas assentes no vazio, no acaso que agarra os sentimentos todos e os faz correr ainda           
da vida e da morte
de tantos
se faz correr
a vaidade de quem vive ainda.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Araújo e Rosinha

As voltas que são dadas para se voltar à mesma volta,
de nunca ser a mesma,
nas voltas e mais voltas que se dão,
enrolando do rabo a cabeça e o sol de ir no de voltar,
folha a folha no engrossar das voltas,
que a cabeça derrama no acumular de voltas.

Circuitos de testar,
testar sempre as soluções de estourar sempre,
mais volta menos volta,
de ver e de ouvir os ecos de fora,
entendendo deles os de dentro,
ecos como cartas que calham,
sorte da sorte de um azar que ainda não veio.

Ontem olhei longamente a dádiva de ser boa, dar numa oferta descomprometida, dar numa volta longa que nunca se perde, as voltas todas de uma vida de sacrificios. Ontem olhei da minha sogra o pai dela, subindo e descendo colinas, tocando os sinos de dar paz aos vivos e descanso aos mortos, de olhos piscos, assobiando baixinho o sossego como comida que nem todos podem. 
Ontem todos pareciam ter as qualidades dos pais, os mortos não guardam defeitos, a Jacinta a ver de todos a parte boa que quase todos desconhecem, o Luís na constante preocupação de fazer bem e de sentir que todos estão bem. Todos pareciam no dia dos pais, pedaços deles que na mesa se impunham vivos, os melhores pedaços, os anos, as recordações neles depositadas que viviam ainda.

Mas ela, ela é magnifica e ontem no entrelaçar de voltas que dão voltas, olhando, olhando dei voltas e mais voltas e nunca me senti perdido, nem desorientado, naquele ruido todo senti o sossego todo por instantes.